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Seres Urbanos

Prédios e pessoas na metrópole paulistana

Perfil Vanessa Correa é jornalista especializada em arquitetura e urbanismo

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Sem incentivo público, condomínio restaura prédio de Artacho Jurado na Bela Vista

Por Vanessa Correa
28/03/14 07:00

O que o edifício Viadutos tem que o Copan não tem? Uma fachada toda restaurada que brilha alva contra o céu da Bela Vista.

Enquanto as pastilhas do Copan despencam na calçada há anos, as do Viadutos estão agora todas lá, tinindo, dando cara nova à obra do não-arquiteto Artacho Jurado (aquele que povoou Higienópolis com edifícios que abusam do azul, do rosa e do amarelo e de elementos vazados ultra-ornamentais).

Edifício Viadutos, de Artacho Jurado

José Marques, o síndico do prédio, diz que “a vida inteira” o condomínio tentou essa reforma. “Fizemos projeto para a Lei Rouanet, tentamos isenção fiscal com a prefeitura, mas nunca foi pra frente”.

O edifício é tombado pelo patrimônio histórico, o que, em tese, lhe dá a possibilidade de acessar recursos públicos. Mas o fato é que essas políticas não emplacaram na cidade. A burocracia é difícil de navegar e desestimula o acesso de “seres urbanos” comuns, como síndicos. Como reunir o conhecimento e o traquejo, por exemplo, de especialistas em captar verbas para a produção de filmes?

E assim, os quase R$ 600 mil da obra (que incluiu também o restauro da marquise e do icônico salão de festas que coroa o prédio), hoje em fase de retoques finais, foram totalmente pagos pelos moradores do prédio.

Pastilhas amarelas

Com a verba em mãos, a maior dificuldade, conta o síndico, foi encontrar as pastilhas amarelas da marquise. “Procuramos em Brasília, São José do Rio Preto. Só conseguimos comprar cinco metros [quadrados], em uma fábrica em Santos”.

Não é nem de longe o mesmo prédio de anos atrás (veja nas fotos), escurecido, com os pilotis do térreo encobertos por chapas de aço. Agora, com o salão da cobertura todo renovado, Marques pretende aumentar a arrecadação de verbas para o condomínio.

Sua ideia é alugar o espaço, que tem vistas para a cidade toda, também para festas (o salão já era bastante usado em locações de filmes e comerciais). Mas já avisa: “Não cobro barato. É um transtorno, só temos dois elevadores que vão até lá. E depois fica tudo sujo, bagunçado”. Os interessados deverão negociar diretamente com Marques.

Com a valorização do centro da cidade, o Viadutos se valorizou também. Eu cheguei a visitar um apartamento em 2008, de um dormitório, pelo qual se pedia R$ 85 mil. Hoje, não saem por menos de R$ 300 mil, numa alta de preços semelhante a que ocorreu no Copan, a uns 500 metros dali.

Onde fica?

Quer ver o prédio de perto? Ele fica na praça General Craveiro Lopes, 19, próximo do metrô Anhangabaú.

Aproveite para comer um doce na padaria Palma D’Ouro, logo ao lado, ou para encarar o supersanduíche de pernil do Lanches Estadão, a dois minutos de caminhada. Mais dez passos e chegará na biblioteca Mário de Andrade (de Jacques Pilon), ao lado da verde e recôndita praça Dom José Gaspar, que também tem o Paribar e suas mesas sob a sombra das árvores.

Ou pode dar um pulo na Câmara Municipal, bem em frente (mesmo), e reclamar para os vereadores da fraquíssima legislação de preservação de patrimônio que temos na cidade.

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Memorial do Imigrante reabre em maio, após 3 anos e meio fechado

Por Vanessa Correa
21/03/14 15:13

A industrialização fez São Paulo passar de pouso de viajantes e vila de estudantes a centro econômico do país. Mudança que só foi possível graças às sucessivas levas de imigrantes que vieram para cá.

Onde na cidade essa história toda é contada? Desde dezembro de 2010, em parte nenhuma. Mas a partir de 31 de maio, no Museu da Imigração (antes chamado Memorial do Imigrante).

O novo Museu da Imigração

A antiga Hospedaria de Imigrantes passou três anos e meio em restauro do prédio (o primeiro completo desde sua construção, em 1887) e modernização de suas instalações.

O museu, que abriga um acervo de 17 mil itens, não tinha nem ar-condicionado. Além disso, as cheias que afetam a região ameaçavam essas peças, e reforços nos muros e comportas foram instalados para evitar perdê-las para as águas.

De quebra o museu vem com uma nova exposição permanente, que vai mostrar desde os principais fluxos migratórios mundiais até os movimentos imigratórios no Brasil de hoje, representados especialmente por bolivianos e africanos.

Antes, o museu se concentrava nos imigrantes que vieram para substituir os escravos nas lavouras de café e nos migrantes nordestinos, contando a história dos 2,5 milhões de pessoas que passaram pelo prédio entre 1887 e 1978.

As novas exposições também usarão tecnologia para emocionar os visitantes.

Na sala que vai simular o dormitório da hospedaria com seus beliches, o clima vai ser dado pelo som de mar e pela projeção de cartas dos então recém-chegados a São Paulo.

“A ideia é passar a sensação que se tinha na primeira noite na hospedaria, depois de uma longa viagem de navio”, diz Marília Bonas Conte, presidente-executiva do Museu da Imigração.

Vai ficar lindo, não tenho dúvida. Especialmente porque o lugar também será um centro de referência para as comunidades de imigrantes que vivem hoje na cidade. Terá sala, equipamentos e assessoria para que consigam obter seus direitos, segundo Marília.

Mas demorou e custou caro. A obra deveria ter ficado pronta há um ano e meio atrás, em 2012, a um custo de R$ 5 milhões. Gastaram-se R$ 20 milhões.

Segundo a coordenadora da área de museus da secretaria de Estado da Cultura, Renata Vieira da Motta, a reforma demorou devido a todas as novas instalações necessárias para que o museu abrigasse seu acervo com segurança e o expusesse com conforto para os visitantes.

Quer conferir de perto se o investimento valeu a pena? O museu fica na rua Visconde de Parnaíba, 1316, na Mooca. A entrada será gratuita nos dois primeiros meses a partir da inauguração (31 de maio).

E, em julho, será retomada a tradicional Festa do Imigrante, em sua 19ª edição. Mais informações podem ser obtidas no site da instituição.

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Prédios de oito andares podem deixar a cidade mais densa do que espigões

Por Vanessa Correa
20/03/14 07:00

A prefeitura pretende barrar prédios de mais de 25 metros de altura  (cerca de oito andares) no meio de bairros que já começaram a ser verticalizados, como antecipou a Folha na segunda.

Moradores de lugares como Perdizes e Pompeia podem ter comemorado, mas prédios de até oito andares não são garantia de que uma região não sofrerá adensamento de pessoas e construções. E isso é bom, especialmente para a mobilidade urbana.

A figura abaixo ajuda a esclarecer (clique no desenho para vê-lo em tamanho maior).

imagem densidade

Amarelo (equipamentos comunitários), lilás (lojas e escritórios), cinza escuro (apartamentos duplex), cinza claro (casas), branco (apartamentos)
(Rogers Stirk Harbour and Partners/Divulgação)

Na imagem, é possível ver três maneiras bem diferentes de atingir a mesma densidade (75 unidades por 10 mil m²).

Em São Paulo, devido à legislação urbana em vigor, os edifícios ocupam apenas entre 50% e 70% da área dos terrenos, produzindo a desagradável paisagem do tipo “paliteiro”, que corresponde à primeira ilustração.

Por aqui, predominam as torres altas cercadas por uma área verde e de lazer. O oposto do que observamos em cidades como Nova York ou Paris (mais parecidas com a terceira imagem), onde os prédios são colados uns aos outros, mas não necessariamente altos, e o verde fica por conta das praças e parques. Ou seja, onde o verde é público.

A equação é simples. Menos altura, mais área do terreno ocupada. A paisagem ganha, a cidade fica mais agradável. Se houver comércio no térreo, fica também mais segura (mais olhos nas ruas), eficiente (o carro não sai da garagem pra comprar até pãozinho) e sociável (as pessoas se encontram mais fora de casa).

O novo Plano Diretor, que está em discussão na Câmara Municipal, vai dizer como e onde a cidade deve crescer. Tem como um de seus principais objetivos evitar o chamado espraiamento das novas habitações para a periferia, gerando muitas viagens das pessoas até o trabalho. A ideia é concentrar a população perto dos corredores de transportes públicos  para diminuir os congestionamentos.

Desenho urbano

Mas a lei que vai detalhar o modo como cada lote da cidade será ocupado é a do Zoneamento, a ser discutida depois do plano.

Já está em andamento um concurso da prefeitura para que arquitetos proponham modos novos de configurar as quadras da cidade. Esses modelos servirão de base para o debate.

Em vez de regras abstratas como coeficientes de ocupação, a ideia é usar o desenho arquitetônico (como o da ilustração deste post), uma maneira mais contemporânea de pensar a cidade. É mais fácil de compreender e de ser discutida com a população, e permite gerir não só as taxas de ocupação e densidades, mas também a paisagem.

Tarde demais para São Paulo? Depende do lugar. Moema, por exemplo, já é um paliteiro, mas o desenvolvimento da cidade se dirige agora para onde ainda há casinhas de monte (Vila Madalena, Vila Mariana etc.) e para antigos bairros industriais como Lapa e Mooca (onde há grandes lotes subutilizados).

A revisão do Zoneamento e do Plano Diretor vai dar a cara das novas fronteiras paulistanas. Uma oportunidade a não se perder.

Os bairros e as construtoras

Os bairros são parte da cidade e da equação para resolver problemas que afetam a todos. Para isso é preciso deixar de lado o “não no meu jardim”.

Por sua vez, o setor imobiliário precisa reconhecer que o poder de mobilização das associações e movimentos de moradores é real e que as pessoas andam revoltadas, não sem razão, com os prédios, que veem como os grandes vilões da cidade. Formas mais inteligentes de ocupação podem diminuir a resistência desses setores (muito bem articulados, por sinal), instalados nas melhores regiões da cidade, justamente onde as construtoras querem incorporar seus novos negócios.

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Ativistas apostam em escritura para reabrir 'Parque Augusta' já

Por Vanessa Correa
14/03/14 22:51

Faz 77 dias que o terreno destinado a abrigar o Parque Augusta está fechado. Desde 29 de dezembro, pouco mais de um mês depois da compra pelas incorporadoras Cyrela e Setin, o espaço tem muros e seguranças particulares.

Agora, além de brigar pela criação de uma área verde pública ali, os frequentadores brigam para voltar a usar o espaço de 25 mil m². Já procuraram a prefeitura, fizeram ativismo nas redes sociais e até um piquenique-protesto em frente ao local para pedir a reabertura.

Não tiveram sucesso, mas encontraram, na matrícula do imóvel, algo que acreditam garantir o direito de acesso ao terreno. A aposta dos ativistas é a clausula “e”, pela qual os proprietários devem “permitir a utilização da área verde pelo público”.

Cláusula "e" na matrícula do terreno destinado ao parque Augusta diz que proprietário deve permitir uso da área verde pelo público

Cláusula “e” na matrícula diz que uso da área verde pelo público deve ser permitido

 A cláusula aparece no documento desde ao menos 1974, quando a empresa Teijin do Brasil comprou o imóvel. “Permitir a utilização da área verde pelo público em consonância com a utilização de hotel de categoria internacional a ser construído no local”, diz a matrícula.

Como a condição foi “averbada” pelos vendedores, ou seja, não pode ser removida, ela é transcrita a cada mudança de proprietário. Por isso, aparece também na matrícula feita em janeiro deste ano, quando o terreno foi negociado pela última vez (veja abaixo).

Há outras nove condições averbadas. Entre elas, que a construção ocupe no máximo 25% do espaço e que todas as árvores sejam preservadas. Também há uma cláusula que obriga o imóvel a ter finalidade hoteleira.

A Cyrela afirma que, por ser a mata protegida pelo município, as empresas têm responsabilidade legal sobre ela e se “empenham em garantir sua preservação”, daí o fechamento do terreno. Também informa que o projeto que corre hoje na prefeitura respeita as condições da matrícula do imóvel.

Segundo a secretaria de Licenciamentos da prefeitura, a “condição de ocupação” presente na matrícula deve ser respeitada. Mas o órgão não respondeu especificamente sobre a questão do acesso à área.

Aferrado à causa e a cláusula, o pessoal do grupo “Organismo Parque Augusta” pretende seguir brigando pela reabertura do local enquanto a solução para o parque  não vem.

O plano das construtoras é erguer duas torres, ocupando cerca de 20% do lote. Implantariam e cuidariam do parque como contrapartida, mas não há acordo com os ativistas. Eles querem parque em 100% do terreno e esperam que a prefeitura faça a desapropriação (estima-se que o imóvel valha até R$ 70 milhões) ou encontre uma solução para criar o jardim público.

Uma lei que cria o parque ali foi sancionada em 23 de dezembro pelo prefeito Fernando Haddad (PT), mas logo sua gestão informou que não havia verba para a compra.

Última folha da matrícula do terreno conhecido como Parque Augusta, de 8 de janeiro deste ano

Última folha da matrícula do terreno conhecido como Parque Augusta, de 8 de janeiro deste ano

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Para que visitar o mirante do 'Banespa' quando se tem o Martinelli?

Por Vanessa Correa
11/03/14 08:50

Contam-se nos dedos os mirantes no centro antigo de São Paulo. Os gratuitos e abertos ao público, em dois dedos: o dos prédios Martinelli e Altino Arantes (o antigo Banespa), vizinhos na praça Antônio Prado.

Se quiser apreciar a vista e filosofar sobre a transformação dos Campos de Piratininga em selva de pedra, fique com a primeira opção.

A menos que faça questão absoluta de estar o mais alto possível (o Altino tem 60 metros a mais que o Martinelli) e não se importe em amargar quase uma hora em pé para espiar por míseros cinco minutos a cidade de cima (dá menos de um minuto e meio por ponto cardeal!).

Mirante do Altino Arantes

Eu já tinha ouvido reclamações, e decidi confirmar pessoalmente se era mesmo uma furada a visita à  “torre do Banespa”, que foi comprado pelo espanhol Santander em 2000.

Na entrada, ao pegar uma pequena fila para me cadastrar no passeio, recebo um panfleto plastificado que deixa claro: o “percurso” até o mirante tem cerca de 35 minutos, e a permanência, cinco.

Sem senhas para marcar a ordem de chegada, os turistas ficam em pé na fila, apesar dos bancos e cadeiras do saguão.

A primeira espera dura 20 minutos, e meu grupo de cinco pessoas é levado ao 24º andar, onde espera o mesmo tanto, em pé, em um corredor.

Finalmente é hora de subir até o 32º e os três andares de escada que nos separam do topo. Cinco minutos na antessala do mirante e meu grupo é chamado.

Afinal, a vista! No estreito corredor ao redor da cúpula, deu tempo só para tirar meia dúzia de fotos e identificar a Serra da Cantareira, o Mercadão, a praça da Sé, o parque Dom Pedro e a turma de turistas que passeava a larga no terraço de mais de mil metros quadrados do edifício Martinelli.

Lá eles podem arranhar o céu por toda eternidade, em um passeio que dura no mínimo (eu disse no mínimo) 20 minutos. Fitam longamente a vista, param para conversar, trocam impressões, alheios à frustração de seus semelhantes.

Falando sério

Tudo bem que o mirante é minúsculo e a procura é alta. Mas a visitação tem só cinco horas diárias, e não é feita aos fins de semana. E o que custa (para um banco!) colocar umas cadeiras no 24º andar?

Melhor ainda: parte da longa espera poderia ser muito bem aproveitada na visita ao mobiliário do extinto Banespa e ao cofre do subsolo, onde já esteve guardada a fortuna dos antigos barões do café. Ambos foram tombados pelo governo do Estado em 2011, junto com a fachada do edifício e cinco de seus andares, mas não fazem parte do passeio.

Segundo a assessoria do Santander, o banco trabalha em algumas “ideias” para o Altino, hoje pouco ocupado após a mudança da sede do banco para o complexo que fica junto ao Shopping JK, na zona oeste. Mas não diz mais, apenas que nada é certo ainda.

 

Serviço dos mirantes

Edifício Altino Arantes. Praça Antônio Prado, 6, centro. De seg. à sex., das 10h às  15h. Altura: 161 metros.

Edifício Martinelli. Avenida São João, 35, centro. De seg. à sex., das 9h30 às 11h30 e das 14h às 16h. Aos sábados, das 9h às 15h. E, desde o ano passado, aos domingos também: das 9h às 13h, aproveitando o público da ciclofaixa de lazer. Altura: 106 metros.

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Pulando por uma causa

Por Vanessa Correa
06/03/14 16:35

Paulistano consegue ser sério até no Carnaval! 

Duvida? Dá uma olhadinha no site da prefeitura, que cadastrou 195 blocos de rua neste ano.

Além dos grupos despretensiosos de “amigos que se reúnem para o Carnaval” e os muitos que pretendem “resgatar as marchinhas”, há aqueles com objetivos bem específicos.

São os blocos engajados. Eles exaltam não o samba nem as marchas, mas causas paulistanas, espelhando movimentos existentes na cidade.

Bloco Fluvial do Peixe Seco no Anhangabaú, que pulou pela naturalização dos córregos da cidade (Gabriel Kogan/Divulgação)

Bloco Fluvial do Peixe Seco no Anhangabaú, em prol da naturalização dos córregos da cidade (Gabriel Kogan/Divulgação)

Para promover a criação do Parque Augusta no terreno que fica na rua de mesmo nome (no centro de São Paulo) pulou o Psicoparque Memo.

Dois outros cordões tinham uma causa em comum: renaturalizar os córregos da cidade.

“Despertar o olhar para os milhares de quilômetros de rios que se encontram bem aos nossos pés, embaixo do asfalto” foi a proposta do Bloco Fluvial do Peixe Seco. Desfilou sobre os canalizados rios Saracura e Anhangabaú, ou seja, sobre a avenida Nove de Julho e o Vale do Anhangabaú. Línguas ferinas dizem que as organizadoras chegaram a se preocupar com a empolgação dos foliões, com medo de que se esquecessem do prato principal: a discussão!

O Bloco Água Preta, por sua vez, percorreu o trajeto do córrego de mesmo nome, sob a avenida Sumaré (zona oeste).

E não foram poucos os que pretendiam promover a “reapropriação do espaço público”, como o Bloquinho, da Vila Madalena (zona oeste), ou o Bloco Feliz da Vila, da Casa Verde (zona norte), que incentivou “os moradores a se autoafirmarem como protagonistas de seus espaços”. Com o mesmo objetivo saiu o João Capota na Alves.

Em São Miguel Paulista (zona leste), pulou com uma causa no pé o Bloco do Chinquinho: “levar alegria e entretenimento aos moradores, que são tão carentes de cultura”. Uma demanda típica da periferia, onde ainda falta o básico do básico.

E por fim mas não menos interessante, o Cordão Carnavalesco Boca de Serebesqué, também da perifa (Guaianazes e Lajeado, na zona leste), para promover um carnaval “contra-hegemônico” e a “cultura de resistência pulsante nas periferias de São Paulo”.  

Haja engajamento!

Assista o Bloco Fluvial do Peixe Seco

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Neto de Warchavchik restaura prédio do avô em SP

Por Vanessa Correa
28/02/14 15:10

Quando projetou aquela que é considerada a primeira casa modernista brasileira, em 1927, Gregori Warchavchik (1896-1972) o fez com linhas tão retas para a época que teve de inserir alguns adornos no desenho (mesmo sem a menor intenção de executá-los) para conseguir a aprovação da prefeitura.

Mas alguns anos depois, Warchavchik deixou um pouco de lado a fase de manifesto, e as linhas de seus prédios ficaram mais suaves. Dessa fase saiu, em 1939, o edifício da alameda Barão de Limeira, nos Campos Elíseos (centro).

Feinho e pichado, com venezianas enegrecidas pelo tempo até outro dia, acaba de ser restaurado pelas mãos de Carlos Eduardo Warchavchik, neto do pioneiro modernista.

Edifício da Barão de Limeira


A revalorização do centro, diz Carlos, criou o momento para recuperar o prédio, ao mesmo tempo que a ausência de vagas de garagem passou de problema incontornável para questão menor. Tanto que todas suas 12 unidades já foram vendidas. “E até revendidas com lucro”, diz.

As quitinetes (ou estúdios, se houver pudor) de 60 m² saíram por R$ 300 mil. Já o apartamento de dois dormitórios e 100 m², por R$ 450 mil. Na semana passada, uma dessas unidades maiores estava sendo ofertada para aluguel por R$ 3.500 mais despesas de condomínio (R$ 870).

Até 2010, quando a reforma começou, o edifício da família do arquiteto estava emprestado para pessoas que tomavam conta dele. Até que foi detectado um problema com as fundações, que eram de madeira. Com o gradativo rebaixamento do lençol d’água da cidade, essas estruturas ficaram expostas e começaram a se deteriorar. A primeira etapa da reforma foi reconstruí-las.

Como o edifício é tombado, toda a obra, que só terminou no final do ano passado, teve que passar pela aprovação do patrimônio histórico municipal. A ideia era apenas restaurar o edifício ao original, então não houve muita dificuldade em conseguir o aval.

A maior mudança foi na fachada de trás, em que Carlos preferiu instalar cobogós (elementos vazados) de concreto aparente para fechar as aberturas da área de serviço. “Antes se viam aquelas roupas penduradas”, diz.

Carlos também fez questão de refazer a luminária da entrada do edifício, desenha por seu avô (veja na galeria de fotos).

Embora o edifício da Barão não seja tão conhecido como a primeira casa modernista (que fica na rua Santa Cruz, na Vila Mariana, na zona sul), ele fez parte em 1943 da Exposição Brazil Builds, do MoMA, em Nova York, e aparece no respectivo catálogo. Com isso,  o trabalho de Gregori Warchavchik ganhou novo destaque no exterior. No mesmo ano, o prédio foi publicado em duas ocasiões pela revista americana Architectural Record e premiado pela prefeitura paulistana como um dos mais belos edifícios produzidos entre 1939 e 1940.

Uma curiosidade sobre o edifício é que seus apartamentos não tinham acessos de serviços e dependências de empregados, algo incomum na época. Isso permitiu melhor aproveitamento do pequeno lote em que foi construído.

Outros projetos de Gregori Warchavchik

 

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Prédio de grife 'assusta' moradores da Vila Madalena

Por Vanessa Correa
25/02/14 00:12

Ele é um edifício assinado. Aliás, assinadíssimo: saiu das pranchetas do badalado e premiado arquiteto Isay Weinfeld. Mas isso não o livrou das críticas. Moradores e comerciantes da Vila Madalena (zona oeste de SP) veem apenas um “paredão cinza” que subiu de repente para atrapalhar a paisagem.

Mix 422

Há tempos quem vive no bairro da zona oeste briga contra a chegada dos prédios, mas o recém erguido Mix 422, da construtora Idea!Zarvos, desagrada não só por ser um edifício a mais em um bairro de casinhas, mas por sua forma e cor: todo cinza (ao menos por enquanto), ele corta de fora a fora um pedaço do quarteirão formado pelas ruas Fidalga, Aspicuelta e Fradique Coutinho.

O burburinho está no Facebook e nas ruas. “Bloquearam o céu de boa parte da comunidade da Vila Madalena com um paredão horroroso”, reclamou o publicitário Fernando Cabral, 35, em sua timeline na rede social. Para “Seres Urbanos”, Fernando disse: “Verticalizar a cidade já é questionável. Verticalizar e ‘vandalizar’ a vista então… Esse caso foi além da descaracterização do bairro”.

No quarteirão em que está o prédio, a recepção não foi melhor. Fábio Tolosa, 49, dono de uma loja de presentes na rua Fradique Coutinho, engrossa o coro dos perplexos. “Acho muito feio. Ainda não entendi. A Zarvos faz projetos interessantes, mas esse eu acho agressivo, árido. E é impressionante, porque se vê de vários pontos do bairro. Vamos ver depois de pronto, né, com algum paisagismo, talvez.”

A dona de galeria Carla Meira, 38, também não gostou do prédio, que lhe “parece um bloco sem ventilação”, mas confessou que não gosta de nenhum edifício mesmo.

Um reconhecido crítico de arquitetura que preferiu falar em “off” (sem ser identificado), se referiu ao Mix como um edifício “polêmico”, que tem gerado discussão. “Tem um paredão que é um pouco agressivo”, disse, apesar de gostar do projeto. Também comentou que, com as novas construções chegando à Vila e o adensamento da cidade como um todo, a “sorte” do edifício é que ele “vai desaparecer daqui alguns anos”.

Com isso, o presidente do IAB-SP (Instituto de Arquitetos do Brasil), José Armênio de Brito Cruz, concorda. “A cidade vai se adensar, no futuro não vai ser feita de casinhas. A Vila é um bairro bom, bem localizado, todo mundo tem direito de morar lá. Até o limite que aguentar”.

Para ele, a rejeição ao prédio é um fenômeno estético-cultural e questão de ponto de vista. “Tem gente que se sente agredida por um prédio neoclássico, que vê como destruição da cultura brasileira. O que é mais agressivo: a destruição de uma identidade cultural ou um paredão? É questão de opinião”.

Por outro lado, José Armênio diz acreditar que nossa legislação deve mudar para deixar os empreendimentos imobiliários mais transparentes. “As pessoas precisam saber o que vai acontecer do lado da casa delas. Para evitar que chegue um projeto que não conhecem e aí se assustem”.

O autor do projeto, Isay Weinfeld, diz que está “completamente confortável” com sua obra e que respeita a opinião das pessoas. Não quis comentar em mais detalhes o projeto, mas lembrou que o edifício ainda não está pronto.

Otávio Zarvos, sócio da construtora responsável pelo edifício, defendeu o projeto, especialmente suas qualidades urbanísticas. Conta que apenas uma casa foi demolida para sua construção, que ocorreu em terrenos onde funcionavam estacionamentos. Além disso, diz, suas três frentes, todas com cerca de apenas dez metros, serão abertas à calçada. Uma terá comércio no térreo, e a outra, um bicicletário. Diferente dos edifícios murados e gradeados que não se comunicam com a rua.

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Baixem a tarifa do busão, não quero mais prédios no meu quarteirão!

Por Vanessa Correa
24/02/14 23:03

Somos 20 milhões de seres urbanos em São Paulo, guiados pelo ritmo do abre e fecha dos faróis, do vaivém dos trens do metrô, do dia do pagamento e do vencimento das prestações. O medo da violência (real ou imaginada) nos faz passar batido pelo espaço público, como se só existissem origem e destino: a casa, o trabalho, o shopping -um triângulo das bermudas do asfalto.

Esse ainda é o grosso de nossa rotina, mas sinais de que a crise urbana chega ao limite começam a dar as caras na nossa metrópole do concreto aparente. Depois do pleno emprego e do consumo, os paulistanos perceberam que querem dinheiro, mas também querem felicidade, e ficaram sedentos de vida pública. Transbordam as ciclofaixas, os parques e os shoppings (vide rolezinhos), esse substituto dos espaços de convivência perdidos. Movimentos, turbinados pelas redes sociais, ocupam as ruas de forma criativa com festas, reivindicações. “Baixem a tarifa do busão, não quero mais prédios no meu quarteirão!” poderia ser um bordão-síntese dessa ópera urbana.

É dessa ópera que este blog vai tratar. Grupos de cidadãos e suas causas do contra (desapropriações, prédios, derrubadas de árvores) ou a favor (criação de parques, mais casas populares), novos tipos de empreendimentos imobiliários que melhoram ou pioram a vida na cidade, a queda ou a restauração de edifícios históricos, a ascensão da bicicleta, as medidas controversas da prefeitura como os corredores de ônibus e seus desdobramentos. Tudo isso e um tanto mais vai virar pauta no “Seres Urbanos”. E você, que vive essa avalanche de novidades na pele, está sempre convidado a participar com sugestões e comentários. 

Trem da CPTM passa em frente de fábrica na Mooca; ao fundo, avistam-se os novos prédios construídos no antigo bairro fabril

Trem passa em frente a fábrica na Mooca; ao fundo, avistam-se novos prédios no antigo bairro fabril              (Foto Eduardo Knapp)

 

 

 

 

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