Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Seres Urbanos

Prédios e pessoas na metrópole paulistana

Perfil Vanessa Correa é jornalista especializada em arquitetura e urbanismo

Perfil completo

Por que o novo Plano Diretor tem tudo para sair do papel

Por Vanessa Correa
14/08/14 10:05

É bem conhecido dos urbanistas brasileiros o artigo “As Ilusões do Plano Diretor”, de Flavio Villaça. Nele, o arquiteto argumenta que os planos são peças ideológicas: ao alcançar um amplo consenso social em torno de suas “verdades”, mudam tudo no papel para que nada mude no solo da cidade.

Mas não é culpa do influente texto que os planos andem desacreditados. Basta observarmos o que aconteceu em São Paulo.

As propostas do Plano Diretor paulistano de 2002 para a mobilidade, para a habitação e para financiar essas transformações não deram em muita coisa. Qualquer morador pode atestar.

Essas mesmas propostas estão no novo Plano Diretor. Aprimoradas por mecanismos que as tornam auto-aplicáveis ou por exclusão de brechas que facultavam sua aplicação, devem tirar do papel o que já estava no texto antigo.

Leia abaixo o que mudou no plano e tire suas próprias conclusões.

FINANCIAMENTO DAS MUDANÇAS

No plano antigo a grande promessa para financiar as melhorias da cidade foi a cobrança pelo direito de construir acima do limite básico do terreno. Doze anos depois, quase nada foi arrecadado para o Fundurb (o fundo para obras urbanas do município). Só 12,5% do total de metros quadrados erguidos pagaram taxa à prefeitura.

Como era em 2002

Uma brecha no plano permitiu construir além do limite básico sem ter que pagar por isso, caso o empreendedor mantivesse grande área de solo livre. Era a chamada Fórmula de Adiron. O resultado foi que, de uma receita de R$ 95 bilhões em vendas de empreendimentos imobiliários, a prefeitura só conseguir arrecadar R$ 1,25 bilhão (o equivalente a 1%).

O dispositivo, além de solapar a arrecadação, ajudou a gerar o pouco civilizado modelo de edifício alto no centro do lote, que resulta na paisagem tipo paliteiro e nos condomínos fechados para a cidade.

Como é agora

A fórmula de Adiron foi extinta. E o limite para construir sem ter de pagar à prefeitura é de uma vez o tamanho do terreno. Antes, em grande parte da cidade se podia construir até duas vezes de graça.

Fonte: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo

Fonte: SMDU (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo) CLIQUE PARA AUMENTAR

HABITAÇÃO

Mais da metade dos terrenos destinados no plano de 2002 a moradias de pessoas pobres (as chamadas Zeis) não recebeu nenhum edifício. No centro expandido, a situação foi ainda pior: dos edifícios construídos, quase a metade virou prédio para as classes A e B.

Como era em 2002

Um acordo de última hora na Câmara dos Vereadores deu prazo de até seis meses para os donos de terrenos gravados como Zeis protocolarem projetos que não fossem de habitação social.

Como é agora

A brecha para protocolar projetos não existe no novo plano. E mais importante: 30% do dinheiro que será arrecadado para o Fundurb (citado no primeiro tópico) deverá ir para a habitação social. A verba é carimbada e não precisa de lei complementar. Está no plano e está valendo.

Fonte: SMDU

Fonte: SMDU (CLIQUE PARA AUMENTAR)

MOBILIDADE

O adensamento dos eixos de transportes, cerne do plano atual, já existia no plano anterior, mas nunca saiu do papel (falei sobre isso em um post recente).

Como era em 2002

A possibilidade de construir quatro vezes o tamanho do terreno perto de corredores de transportes e estações era condicionada a apresentação de um projeto urbano detalhado na forma de lei.

Como é agora

A possibilidade de construir quatro vezes o tamanho do terreno perto dos eixos de transportes não depende de lei complementar. É só chegar e construir.

Fonte: SMDU (CLIQUE PARA AUMENTAR)

Fonte: SMDU (CLIQUE PARA AUMENTAR)

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Em vez de demolição, sobrados antigos ganham reforma na Bela Vista

Por Vanessa Correa
22/07/14 09:48

Poucos sobrados deteriorados têm a mesma sorte do conjunto da rua Maria José, uma travessa da av. Brigadeiro Luís Antônio na Bela Vista.

O reboco já estava se despregando das paredes quando os imóveis foram completamente recuperados, em vez de serem demolidos para dar lugar a um edifício comercial genérico, daqueles revestidos de vidro, como seria o mais comum.

Além disso, os arquitetos que projetaram a reforma tiraram partido da arquitetura original, outra decisão rara na cidade.

A obra, que modernizou completamente o interior dos sobrados, alterou pouco as fachadas: as janelas foram trocadas, mas a forma das aberturas foi mantida. A maior diferença é o contraste entre o branco e as molduras de cores intensas da nova pintura.

De qualquer  modo, nunca houve a pretensão de se fazer um restauro à condição original, dizem os arquitetos Marcelo Ciocler e Dirceu Iazzetta Nunes, da NPP Arquitetura, responsável pelo projeto de reforma.

Renovados, os sobrados, que não eram tombados pelo patrimônio histórico, estão sendo alugados como escritórios e consultórios.

O advogado e professor da PUC e FAAP José Lourenço, 61, dono do conjunto, diz que se inspirou no que vê no exterior em suas viagens. “Em Manhattan, as pessoas praticamente desmontam o imóvel todo por dentro, mas mantém a fachada”.

Ele acredita que a “preservação cultural” ajuda a valorizar os imóveis, que têm sido alugados por cerca de R$ 6 mil ao mês.

A reforma levou dois anos. “É mais demorada. Os pedreiros tiveram de fazer fôrmas diferentes para restaurar cada detalhe da fachada.”

A demolição também foi descartada porque a profundidade dos terrenos é de apenas 12 metros. Qualquer imóvel que fosse erguido depois ali teria que respeitar um recuo de frente, o que tornaria inviável o empreendimento.

Antes da obra, os sobrados eram usados como cortiços, prática comum em imóveis antigos da região.

————————–

Curta a página do “Seres Urbanos” no Facebook aqui.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Adensamento perto do transporte já estava no Plano Diretor de 2002

Por Vanessa Correa
14/07/14 07:41

Ideia central do novo Plano Diretor, o incentivo ao adensamento de corredores de transporte não é uma novidade. A estratégia já estava descrita no plano de 2002 sob o nome de AIUs (Áreas de Intervenção Urbana).

Agora, o que era AIU virou “eixo de estruturação e transformação urbana”. As AIUs delimitavam uma área semelhante à dos atuais eixos: até 300 metros ao lado de corredores de ônibus e até 600 metros ao redor das estações de trem e metrô.

Área de influência dos eixos de estruturação urbana (fonte: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/)

Área de influência dos eixos de estruturação e transformação urbana – PDE 2014 (fonte: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/)

Mas, como se pode notar pelos espigões espalhados arbitrariamente pela cidade, as AIUs não pegaram. De fato, nenhuma AIU saiu do papel.

Se, em termos meramente geográficos, as ferramentas de 2002 e 2014 coincidem, em termos estratégicos elas são opostas.

A grande diferença é que uma AIU só poderia ser implantada mediante projeto urbanístico detalhado. Ou seja, após definidos como, quanto e onde construir prédios residenciais e os edifícios comerciais, equipamentos como postos de saúde e bibliotecas, parques e praças, calçadas e calçadões. Assim como para os atuais eixos de estruturação, se poderia erguer até quatro vezes o tamanho dos lotes.

Nesse sentido as AIUs eram a proposta ideal do ponto de vista técnico, e talvez por isso mesmo tenham ficado só no plano das ideias. Assim como as operações urbanas previstas no plano de 2002. Das oito criadas, só a da Água Branca virou lei.

Mas por que não conseguimos fazer projeto em São Paulo?

A falta de pressão da sociedade é uma das razões, diz o relator do plano na Câmara Municipal, o vereador Nabil Bonduki (PT), que é urbanista e professor da faculdade de arquitetura da USP.

“Não temos cultura de fazer projeto, as pessoas não veem a importância disso. Por outro lado, a capacidade do poder público de fazê-los é baixa”, afirma o relator.

Com o novo plano, não é necessário um projeto urbano para que o mercado possa erguer edifícios com área equivalente a quatro vezes à de seu terreno. No restante da cidade, o limite de construção é em geral de apenas duas vezes.

Graças à possibilidade automática de construir mais, o adensamento dos eixos agora é quase certo, diferente do que ocorreu com as AIUs.

Algumas diretrizes foram estabelecidas para tentar garantir um mínimo de urbanidade nesses locais. Pelo plano, uma faixa de terreno deve ser reservada para alargamento de calçadas, e muros podem fechar apenas 25% da frente do imóvel –embora o restante ainda possa ser vedado com grades.

Além disso, ao menos 20% da área do lote (construída ou livre) deve se destinar à fruição pública. O que não está explicado é como haverá fruição pública de fato se o terreno pode ser gradeado.

Daí para frente, entra-se no âmbito dos incentivos: áreas reservadas a estabelecimentos comerciais e de serviços no térreo serão descontadas do total de metros quadrados permitido no lote sem a cobrança de taxas. Vagas de garagem que ultrapassarem o limite de uma unidade por apartamento terão de pagar taxa.

Como se trata de incentivo financeiro, condicionantes do mercado é que vão determinar se produzirão o efeito desejado.

Perspectiva ilustrada de como idealmente podem ficar os eixos de estruturação urbana (fonte: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/)

Perspectiva ilustrada de como idealmente podem ficar os eixos de estruturação urbana (fonte: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/)

Para definir mais claramente com que qualidade ocorrerá o adensamento dessas áreas, a Lei de Zoneamento, cuja revisão já está sendo preparada, poderia transformar em regras, considerando as características e necessidades locais, parte ou o total de diretrizes que se pretende apenas incentivar.

Do jeito que estão, essas medidas ainda são insuficientes para afastar de vez o modelo condomínio-clube com espigões no centro do lote que tanto destruiu a vida de rua e a paisagem da cidade.

Poder construir quatro vezes a área do terreno é uma vantagem e tanto para o mercado. No plano anterior, isso só era possível em uma parte dos centros de bairro. A cidade merece uma contrapartida à altura.

————————–

Curta a página do “Seres Urbanos” no Facebook aqui.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

FAU-USP põe na internet seu acervo dos 34 anos da revista 'Acrópole'

Por Vanessa Correa
04/07/14 09:32

Para o deleite de aficcionados e estudiosos da história das casas e edifícios brasileiros, a Faculdade de Arquitetura da USP digitalizou toda sua coleção da revista ‘Acrópole’ e colocou à disposição na internet. Não é preciso cadastro ou e-mail. Basta acessar o site e mergulhar em suas 27.542 páginas.

Publicada de 1938 a 1971, a revista dedicada aos projetos arquitetônicos registrou o rápido crescimento da cidade de São Paulo e é fonte riquíssima de pesquisa.

Nesses 34 anos, divulgou o trabalho de arquitetos como Siegbert Zanetini, Ruy Ohtake, Osvaldo Bratke e Rino Levi. Como a redação da revista ficava na cidade de São Paulo, a maior parte dos projetos publicados são do Estado, com ênfase na capital.

De acordo com o crítico de arquitetura e editor da revista Monolito, Fernando Serapião, que estudou a Acrópole em sua dissertação de mestrado, o primeiro proprietário da revista, Roberto Corrêa Brito, dirigia o Cadastro Imobiliário de São Paulo e desejava publicar a obra do arquiteto Eduardo Kneese de Mello.

Surgiu daí a ideia de criar a publicação, com o que colaboraram, além do próprio Kneese de Mello, os engenheiros Alfredo Ernesto Becker e Henrique Mindlin.

Isso talvez ajude a explicar o grande número de obras desses autores na revista, especialmente em sua primeira fase, que durou até 1952, sob a edição de Corrêa Brito. Os conteúdos editoriais e de publicidade não eram claramente separados, e as matérias exibiam logotipos e telefones das construtoras e arquitetos, observou Serapião em seu trabalho.

Nesse período eram frequentes em suas páginas as casas em “estilos” (neocolonial especialmente) projetadas por arquitetos como Kneese de Mello e Bratke, que depois se consagrariam no modernismo.

Essa predominância ajuda a explicar um pouco aquele momento, pouco antes da explosão do estilo internacional, quando se buscava uma arquitetura nova que refletisse os valores e tradições nacionais. Busca que se traduziu, no Brasil, na reedição de elementos da arquitetura colonial.

Em 1952, Quando Max Grunwald se tornou editor, o perfil da revista mudou e, de acordo com Serapião, passaram a ser escolhidos projetos de maior qualidade para a publicação. O que se registrou a partir daí foi principalmente o modernismo arquitetônico que tomava corpo na cidade de São Paulo.

Em uma rápida “folheada” nos exemplares, separei alguns projetos emblemáticos.

Nos primeiros volumes, eles aparecem ao lado de anúncios como os da casa de vitrais Conrado Sorgenicht (aberta até hoje), da construtora Monções de Artacho Jurado, e de um lançamento imobiliário onde se lê “construa seu lar no Pacaembú, a nova maravilha urbana”.

O Clube Regatas do Tietê, de Vilanova Artiga, foi publicado no nº27, em 1940. Três edições depois (1940, nº30), aparece o projeto do então recém-construído Hospital das Clínicas.

Em 1941 (nº 34) a Acrópole trouxe os desenhos e fotos da construção da Via Anchieta e da canalização do rio Tietê, mostrando que o urbanismo era um tema tão importante em suas páginas quanto a arquitetura.

Já na segunda fase, a revista publicou (1960, nº 255) projetos como o edifício Quinta Avenida, de Pedro Paulo de Melo Saraiva, construído na avenida Paulista. Em 1970, veio o especial sobre Brasília (nº375). A última edição (nº390), de 1971, é toda dedicada a projetos de sinalização como o do Metrô de São Paulo.

A resolução das páginas digitalizadas não está lá grandes coisas, mas com o zoom, é possível ler todos os textos. Além disso, faltam algumas edições e páginas, como as folhas que trazem o projeto do prédio da própria FAU-USP, de Vilanova Artigas (1970, nº377). A ausência foi notada pelo perfil “Vilanova Artigas Professor” no Facebook.

Nada que tire o brilho da iniciativa da faculdade de tornar acessível a qualquer um, a partir do sofá de casa, as páginas dessa revista pioneira.

 

————————–

Curta a página do “Seres Urbanos” no Facebook aqui.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Apartamento para solteiros 'pobres' que ganham até R$ 4.344

Por Vanessa Correa
24/06/14 08:51

Um condomínio recém-lançado na Barra Funda (bairro da zona oeste) oferece apartamentos de 32 m² e um dormitório (ainda na planta) por R$ 185 mil reais. Trata-se, como o próprio anúncio do empreendimento deixa claro, de HIS (habitação de interesse social).

Perspectiva ilustrada e planta do apartamento da Barra Funda

Perspectiva ilustrada e planta do apartamento da Barra Funda

Em São Paulo, a renda familiar máxima permitida para HIS é de seis salários mínimos (R$ 4.344). O apartamento do anúncio tem um quarto só, ou seja, foi projetado para atender as necessidades de solteiros ou casais sem filhos.

Quando um imóvel desses é vendido a um solteiro no limite da faixa de renda permitida, o resultado é que uma política de interesse social atendeu um paulistano que faz parte dos 17,4% que estão no topo da pirâmide social.

Se considerada a renda familiar, a distorção, embora menor, ainda existe: 42,6% das famílias paulistanas têm renda igual ou maior do que seis mínimos.

 

Fonte: Prefeitura de São Paulo, com dados do IBGE do Censo de 2010

Fonte: Prefeitura de São Paulo, com dados do Censo de 2010 do IBGE

A faixa de renda atendida por HIS foi estabelecida em 2002, pelo Plano Diretor vigente. Como o salário mínimo era então de R$ 200, HIS estava destinada a famílias com renda mensal de até R$ 1.200. Esse valor, corrigido, daria hoje R$ 2.610, pouco mais da metade dos R$ 4.344.

Resumindo, o salário mínimo se valorizou, e a distorção não foi corrigida na política habitacional.

A última redação (de 17 de junho) do substitutivo do Plano Diretor, que tramita na Câmara Municipal, avança na correção do problema, ao subdividir HIS em duas categorias.

A chamada HIS 1 garante que uma parte dos apartamentos atenda famílias que ganham até R$ 2.172 (três salários mínimos). A chamada HIS 2 atende até o equivalente aos mesmos seis salários mínimos de antes.

Mas, além da subdivisão, agora os empreendimentos de interesse social em regiões com boa infraestrutura (as chamadas Zeis 3) devem reservar ao menos 60% da área para a faixa mais baixa de renda, a HIS 1. No primeiro texto enviado a Câmara pela prefeitura essa proporção era de 25%.

(clique no quadro abaixo para ver em tamanho maior)

Quadro do atual substitutivo do Plano Diretor (HIS - Habitação de Interesse Social/ HMP - Habitação de Mercado Popular/ R - residencial/ nR - não residencial)

Quadro do atual substitutivo do Plano Diretor (HIS – Habitação de Interesse Social/ HMP – Habitação de Mercado Popular/ R – residencial/ nR – não residencial)

No plano de 2002, em que havia apenas uma faixa de HIS, a reserva para habitação de interesse social era de 40%.

Outra novidade do plano são as chamadas Zeis 5, situadas em regiões ainda mais bem estruturadas. Uma delas, por exemplo, fica na Vila Nova Conceição, um dos bairros mais ricos da cidade. Neste tipo de Zeis, a reserva é de 40% para HIS, mas sem distinção de faixas de renda 1 e 2.

O mercado já deixou claro que não tem interesse em construir em Zeis 3 e reclama que são poucos os terrenos para Zeis 5, diz o vereador Nabil Bonduki (PT), relator do plano na Câmara.

O risco portanto é a repetição do que ocorreu no último Plano Diretor, de 2002. Dos 1,1 milhão de m² dos 74 lotes demarcadas como Zeis no centro expandido, apenas 10% receberam empreendimentos da iniciativa privada. E tudo isso em meio a um boom imobiliário sem precedentes.

Para João Whitaker, pesquisador sênior do laboratório de habitação da FAU-USP, os imóveis para HIS acabam sendo destinados à classe média, e as políticas de habitação na cidade não são voltadas efetivamente para a população de baixa renda. “No mundo inteiro a habitação social depende de subsídios governamentais”.

Segundo o vereador Nabil Bonduki, o plano se limita a estabelecer as faixas de renda, e cabe à prefeitura, por meio da Secretaria da Habitação, traçar uma política que dê conta de atingir as camadas mais pobres da população, usando, entre outros, recursos do programa federal Minha Casa Minha Vida.

————————–

Curta a página do “Seres Urbanos” no Facebook aqui.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Lançamento com vista para o Minhocão

Por Vanessa Correa
18/06/14 09:21

Viver perto do Minhocão tem lá suas vantagens: um parque (por mais árido que seja) disponível todas as noites, domingos e feriados, quando o símbolo máximo do fracasso urbano da cidade fecha para os carros. Dá pra correr, andar de bicicleta, passear o cachorro e espiar o que acontece no apartamento alheio.

Outro ponto positivo: em seus 3,4 km de extensão, o Minhocão vai do centro à zona oeste. Daí que estar perto dessa gigantesca estrutura de concreto armado também é estar na parte mais consolidada da cidade, onde fica o grosso do transporte coletivo, bares e restaurantes.

Seria isso incentivo suficiente para morar bem ao lado do elevado? E para investir alguns milhões de reais em um empreendimento imobiliário roçando o Minhocão?

Em tempos de trânsito e transporte coletivo saturados, com a localização no topo das prioridades habitacionais, parece que a resposta é sim.

Há uma incorporadora apostando na ideia. A Helbor vai lançar um edifício com 226 apartamentos na rua Santa Isabel com a Amaral Gurgel (essa é bem embaixo do Minhocão), na Vila Buarque, no centro. O projeto está em fase de aprovação na prefeitura.

A empresa tem “tradição” em investir em áreas que não atraem outras incorporadoras, diz Roberto Viegas, assessor de assuntos corporativos da Helbor. Ele cita como exemplo um edifício construído em 2002 na rua Frei Caneca, quando “a área estava degradada e recebia poucos investimentos imobiliários”.

O entorno imediato do Minhocão pode até ser considerado degradado, mas a vizinhança do futuro prédio é bem o contrário. A uma quadra fica a Santa Casa, a cinco, a Estação Santa Cecília do Metrô, e perto dali estão o Mackenzie e o Shopping Higienópolis.

E, se tiver sorte, quem comprar um dos apartamentos ainda pode ver o Minhocão demolido ou transformado em parque de verdade.

A prefeitura tem projeto para remover o elevado, mas como depende da abertura de uma via alternativa, é coisa para ser feita em longo prazo. Já a área de lazer é o sonho dos ativistas da organização Parque Minhocão, que desenvolveram um projeto para o lugar e têm feito eventos e barulho na mídia em prol de sua causa.

————————–

Curta a página do “Seres Urbanos” no Facebook aqui.

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Antigo Moinho Santo Antônio vai virar campus universitário; veja o projeto

Por Vanessa Correa
03/06/14 17:25

Mais de duas décadas depois do Sesc Pompeia de Lina Bo Bardi, São Paulo terá uma nova grande intervenção arquitetônica em edifício industrial histórico.

Se trata de um projeto do escritório Vidal & Sant’Anna para a FAM (Faculdade das Américas), que vai instalar seu novo campus no prédio do antigo moinho de trigo Minetti Gamba, na Mooca. O conjunto de fábrica e armazéns construídos na primeira década do século passado ficou conhecido pelos paulistanos como Moinho Santo Antônio, nome da casa de eventos que funcionou ali até 2011.

O projeto que tramita hoje na prefeitura cria dois edifícios de vidro, com cinco andares cada, nos limites laterais do terreno. Novas estruturas também serão construídas no subsolo.

Dezoito fotos de perspectivas ilustradas do projeto (obtidas no processo protocolado no Conpresp, orgão do patrimônio histórico municipal) podem ser vistas na galeria abaixo.

Projeto de campus no antigo moinho

Um dos pontos controversos da proposta da FAM é o uso de vidros espelhados na fachada, como uma maneira de “neutralizar” os novos edifícios. A solução foi questionado pelo Conpresp. A justificativa dada ao órgão municipal, que ainda não emitiu seu parecer, foi que “as superfícies espelhadas […] têm como objetivo refletir a imagem dos galpões existentes, reproduzindo a continuidade destes”.

O projeto também propõe que a plataforma da estação Mooca da CPTM seja levada à rua Borges de Figueiredo, com acesso dentro do campus. De acordo com o projeto arquitetônico, a ideia é diminuir a geração de tráfego local e criar convívio público dentro do campus, “dando vida e integração urbana ao projeto”.

Para a estação ser deslocada, no entanto, é preciso o aval da CPTM.

Como uma espécie de contrapartida aos moradores do bairro, a faculdade pretende criar dentro do edifício mais alto, onde ficava o moinho em si, um espaço de exposições de memórias da Mooca, gerido por um conselho de representantes do bairro, da universidade e do centro universitário.

Mas a contrapartida oferecida está muito aquém do que sonham moradores para o lugar. Elizabeth Florido, 44, que já venceu algumas brigas pelo patrimônio da região –uma delas contra a demolição do antigo Cotonifício Crespi, outra contra a construção de um condomínio no próprio conjunto do moinho e que culminou com o tombamento- quer que o lugar seja todo destinado à comunidade.

“O moinho tornou-se um acessório, um enfeite. Como fizeram com a fábrica de açúcar União, onde sobrou só uma chaminé que não diz nada. Vira um brinquedinho de luxo, um enfeite dos prédios. Nós queríamos um espaço real de convívio, como um Sesc”.

Elizabeth também teme o trânsito que será gerado por uma nova faculdade. Há nas imediações dois outros campi: o da Universidades São Judas e o da Anhembi Morumbi. “Vai ser aquela loucura: flanelinha, excesso de veículos, violência”.

A presidente da associação de moradores Amo a Mooca, Dona Crescenza Giannoccaro, 70, também receia o excesso de trânsito. Mas a principal queixa dela é a falta de comunicação com os moradores: “não ficamos sabendo de nada”. Para Dona Zina, como é conhecida, o ideal é que o lugar tivesse uso público, mas diz que também pode ser “interessante” que estudantes ocupem o lugar e conheçam a história do bairro.

O órgão técnico do Conpresp, o DPH, formulou há alguns anos um projeto que transformava o moinho em um centro cultural, a pedido gestão José Serra. Mas a desapropriação do lugar nunca ocorreu.

Para a presidente do Conpresp, Nádia Somekh, “o uso como faculdade vai trazer pessoas de todos os cantos da cidade”, o que ajuda a divulgar o patrimônio industrial que existe na região. “Centro cultural não é a única forma de fazer preservação de patrimônio”.

Opinião semelhante sobre o uso proposto tem o crítico de arquitetura e editor da revista Monolito, Fernando Serapião.

“É um avanço imaginar sobrevida [naqueles edifícios] com estudantes, deixando para trás a ideia de que todo prédio antigo torne-se um centro cultural. Também é positiva a manutenção, principalmente a partir da visão do observador, da imagem fabril na memória do bairro. Contudo, o diálogo entre as novas construções e as antigas é a chave do projeto: se o desenho, no todo e na parte, não for sensível a esse encontro, o conjunto ficará prejudicado”.

Para o arquiteto especializado em patrimônio histórico e professor da FIAM-FAAM Alexandre Franco Martins, as regras do Conpresp limitaram as possibilidades do projeto.

“Para este imóvel, onde havia grandes silos verticais compondo com o edifício horizontal do moinho e que marcavam sua presença na vizinhança, a limitação de altura [30 metros] imposta pelo tombamento impede um projeto que recrie essa relação. Uma torre no mesmo local e com as mesmas proporções dos volumes desaparecidos poderia, além de preservar integralmente os galpões existentes, restabelecer a condição daquele conjunto como referencial na paisagem urbana.”

————————–

Curta a página do “Seres Urbanos” no Facebook aqui.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Promotoria abre inquérito para apurar segurança de lojas no Metrô

Por Vanessa Correa
30/05/14 10:48

É seguro instalar uma loja junto a uma das plataformas de embarque da estação Sé do Metrô?

Fiz a pergunta ao Metrô no começo de abril, quando publiquei aqui matéria sobre uma loja da Brasil Cacau que estava sendo então instalada ao lado das escadas rolantes do embarque no sentido Barra-Funda. Hoje o estabelecimento já está funcionando.

Loja de chocolate na plataforma

Ao blog, a Companhia do Metropolitano de São Paulo havia respondido que a instalação de “pontos comerciais na plataforma […] não traz nenhum risco”, mas não forneceu laudos ou licenças sobre a segurança dessas instalações, como foi solicitado.

Após denúncia de Maury Izidoro, consultor jurídico que havia lido a matéria e se sentia “indignado” com as lojas que vem sendo instaladas nas estações, o Ministério Público de São Paulo instaurou um inquérito civil, em 21 de maio, “para verificação da eventual ilegalidade reportada, que estaria violando interesses difusos e/ou coletivos”.

A promotoria pede ao Metrô que preste as informações “a respeito da matéria jornalística em anexo” e solicita lista completa de estabelecimentos comerciais nas estações e respectivas licenças de funcionamento, tudo em prazo de 60 dias. Conto para vocês aqui em dois meses qual foi o desfecho dessa história.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Cinco igrejas paulistanas modernas

Por Vanessa Correa
28/05/14 10:39

Foi numa paróquia da região central de São Paulo que os haitianos “despachados” do Acre receberam abrigo e acolhida. Se você acompanhou essa notícia, é provável que tenha visto como pano de fundo das fotos um templo de tijolos com grandes arcos na fachada: a igreja Nossa Senhora da Paz.

A igreja foi inaugurada no bairro da Liberdade em 1946, após oito anos em construção. Sua função era justamente receber imigrantes: naquela época, os que vinham da Itália. Hoje, além dos haitianos, a Nossa Senhora da Paz acolhe comunidades diversas, como a dos bolivianos (veja abaixo fotos da festa típica de Nossa Senhora de Copacabana).

Igreja Nossa Senhora da Paz

As igrejas de então seguiam geralmente a linha neogótica, a exemplo da Catedral da Sé, projetada em 1913 e inaugurada em 1954. Mas o pintor Fulvio Pennacchi e o arquiteto Leopoldo Pettini conceberam para aquela paróquia da Liberdade uma igreja moderna, racional, apesar de concessões a elementos históricos, como os arcos de seu pórtico.

“O arquiteto Leopoldo Pettini demonstrou erudição ao estabelecer um diálogo consistente com a tradição italiana e, ao mesmo tempo, ser moderno por não imitá-la”, diz Flávia Rudge Ramos, professora do Mackenzie, que estudou o templo em sua dissertação de mestrado.

As linhas simples do projeto geraram a princípio grande resistência entre os clérigos e a sociedade, afirma Flávia. Mas depois suas qualidades arquitetônicas foram reconhecidas até pelo Vaticano.

O projeto apareceu em uma publicação da Santa Sé de 1946 intitulada “Arte Sacra Contemporânea no Brasil”. Também foi levado à Exposição Internacional de Arte Sacra do Primeiro Ano Santo em Roma, em 1950.

Para se ter uma ideia de quão inovador foi o projeto, explica Flávia, a famosa igreja de Nossa Senhora do Brasil, nos Jardins, foi construída na mesma época que a Nossa Senhora da Paz. Mas a arquitetura daquela, copiando um templo mineiro colonial, gerou críticas duras do modernista Menotti Del Picchia, que a considerou retrógrada em comparação à igreja moderna que havia sido erguida na Liberdade.

Mesmo assim, pelas concessões feitas a elementos históricos (o que viria depois a ser uma característica adotada no pós-modernismo arquitetônico), a construção da Nossa Senhora da Paz não alcançou grande repercussão entre arquitetos e críticos de arquitetura brasileiros da época, diz Flávia, que a considera a primeira igreja moderna da cidade.

Veja abaixo quatro templos católicos modernos construídos depois da Nossa Senhora da Paz que se tornaram bem mais conhecidos do que ela. A data que aparece entre parênteses nas legendas é a do projeto, e não a da construção.

Igreja de São Domingos

Igreja da Vila Madalena

Igreja de São Bonifácio

Igreja da Cruz Torta

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Vila Itororó capta R$ 4 milhões de empresas para restauro

Por Vanessa Correa
23/05/14 16:06

A prefeitura conseguiu captar, por meio da Lei Rouanet, R$ 4 milhões com a iniciativa privada para restaurar a Vila Itororó, um conjunto urbano construído na década de 1920  na Bela Vista, região central de São Paulo.

Não vai resolver o problema, mas é um começo. É que o projeto para transformar o lugar em um centro cultural foi estimado em R$ 50 milhões. Metade disso já foi gasto em desapropriações, construção de moradia para os antigos ocupantes e projeto arquitetônico.

Vila Itororó

O banco Itaú e a construtora Camargo Corrêa investirão R$ 2 milhões cada nos primeiros passos para a reforma do antigo palacete e das vinte casas, tombados pelos órgãos do patrimônio histórico municipal e estadual. Como contrapartida, terão direito a renúncia fiscal (retorno de todo ou parte do montante investido sob a forma de desconto no pagamentos de impostos).

Os últimos moradores do lugar foram removidos em março do ano passado. Esse foi um dos aspectos controversos do projeto, pois 103 famílias viviam ali. Houve críticas de que a ação tinha cunho elitista por não considerar a história dessas pessoas com o lugar.

A maioria foi realocada em edifícios construídos nas proximidades.

Um projeto, de autoria dos arquitetos Decio Tozzi e Benedito Lima de Toledo, concebido em 1974, foi atualizado e estava aprovado desde 2010. Como a região da Bela Vista é rica em teatros, o projeto tira partido disso propõe transformar o lugar em um centro cultural dedicado às artes cênicas.

Localizada na encosta do vale formado pelo córrego Itororó, hoje canalizado sob a avenida 23 de Maio, a vila foi idealizada pelo empresário português Francisco de Castro e erguida com restos de demolição de diversos imóveis  da cidade, o que ajudou a conferir um aspecto surrealista ao conjunto.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
Posts anteriores
Posts seguintes
Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emailseresurbanosblog@gmail.com

Buscar

Busca
Publicidade
  • Recent posts Seres Urbanos
  1. 1

    Crítica urbana pela metade

  2. 2

    Nova encíclica papal aborda o direito à cidade

  3. 3

    Casarão tombado ganha renovação na Bela Vista

  4. 4

    Varridas do mapa as primeiras oficinas da Light, no Cambuci

  5. 5

    Arte urbana e patrimônio histórico: discutindo os 'Arcos do Jânio'

SEE PREVIOUS POSTS

Blogs da Folha

Comentários

  • Kátia em Prédio de grife 'assusta' moradores da Vila Madalena
  • sofia em Prédio de grife 'assusta' moradores da Vila Madalena
  • paula em Prédio de grife 'assusta' moradores da Vila Madalena
  • Bruna em Prédio de grife 'assusta' moradores da Vila Madalena
  • emidio em Prédio de grife 'assusta' moradores da Vila Madalena
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).