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Seres Urbanos

Prédios e pessoas na metrópole paulistana

Perfil Vanessa Correa é jornalista especializada em arquitetura e urbanismo

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Transformando vagas de garagem em miniapartamentos

Por Vanessa Correa
30/04/15 12:06

A tendência internacional de mobilidade urbana baseada em transportes públicos, pedestrianismo e bicicletas não é novidade e já se esboça em São Paulo, com as ciclovias e corredores de ônibus, além da volta dos jovens de classe média para as áreas centrais fartas em transporte.

Apesar disso, a dependência do carro ainda é um problema cuja solução está distante (e passa pela ampliação da nossa limitada malha de metrô).

Apartamento e jardim construídos no estacionamento da Scad (Savannah College of Art and Design)

Apartamento e jardim construídos no estacionamento da Scad (Savannah College of Art and Design)

Mas há quem já esteja antecipando o momento em que a infraestrutura reservada aos automóveis ficará tão obsoleta quanto ficaram os edifícios fabris após a desindustrialização dos centros urbanos.

Diante da migração dos usuários dos carros para os transportes públicos e garagens cheias de vagas livres, os alunos de arquitetura e urbanismo da Scad (Savannah College of Art and Design) propuseram uma solução de reúso adaptativo para o edifício de estacionamento da faculdade: apartamentos que ocupam exatamente uma vaga de automóvel (5 m x 2,5 m).

Entre as três moradias construídas para o projeto piloto, há jardins e um espaço aberto comum, além de decks de madeira que fazem as vezes de varanda para cada unidade. Estudantes serão convidados a viver nesses apartamentos por três meses e registrarão sua experiência.

Um levantamento da Poli-USP de 2012 mostrou que 25% da área construída em São Paulo é dedicada a estacionamentos. Se tudo der certo com a cidade, esses espaços terão de ser readequados a outro uso um dia.

Embora não sejamos muito adeptos dos prédios de garagens, na década de 2000 a legislação urbanística acabou por incentivar a construção de edifícios residenciais em que as vagas para automóveis ficam nos primeiros andares, em vez de no subsolo. Nestes casos, propostas de reúso adaptativo semelhantes à da Scad podem vir a calhar.

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Uma capoeira de mata atlântica vingou no topo do prédio da Gazeta

Por Vanessa Correa
25/04/15 17:53

Que tal se os telhados verdes que a prefeitura quer incentivar por meio da Lei de Zoneamento (atualmente em processo de revisão) pudessem imitar um pequeno ecossistema de espécies nativas da cidade de São Paulo?

Apesar da limitada espessura de “solo” que é possível ter em cima de uma laje, o botânico Ricardo Cardim conseguiu recriar um pequena capoeira de mata atlântica, com direito a árvores de três metros de altura, no topo de um edifício na avenida paulista.

O botânico Ricardo Cardim inspeciona a pequena capoeira que plantou no topo do edifício da Gazeta

O botânico Ricardo Cardim inspeciona a pequena capoeira que plantou no topo do edifício da Gazeta

A façanha é inédita, segundo Cardim, que estuda experiências com tetos verdes aqui e fora do Brasil há oito anos. A ideia veio de uma visita ao morro do Corcovado, no Rio, quando o botânico notou que um pequeno trecho desse tipo de mata havia se formado em uma fina camada de terra sobre a laje de pedra do cartão postal carioca.

No começo do ano passado, em um solo de apenas 15 cm de profundidade criado no alto do edifício da Gazeta, na avenida Paulista, ele plantou espécies como angico-branco, araçá, jacarandá paulista.

Camada de "solo" criada sobre o edifício, que tem apenas 15 cm de altura

Camada de “solo” criada sobre o edifício, que tem apenas 15 cm de altura

Agora, há uma pequena capoeira de cerca de 100 árvores em meio aos edifícios da avenida mais conhecida da cidade.

Além de benefícios como retenção de água de chuva, diminuição da temperatura local e melhoria do ar, um teto com espécies nativas colabora com a preservação de espécies tanto da flora quanto da fauna da cidade.

Pequena capoeira de mata atlântica sobre o edifício da Gazeta, vista por dentro

Pequena capoeira de mata atlântica sobre o edifício da Gazeta, vista por dentro

 

Topo do edifício da Gazeta, com teto verde plantado em janeiro do ano passado

Topo do edifício da Gazeta, com teto verde plantado em janeiro do ano passado

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Um vazio que grita no Martinelli

Por Vanessa Correa
20/04/15 16:45

Outro dia, descendo a rua Líbero Badaró, uma mudança na paisagem me chamou a atenção: uma moldura gigante contornando um retângulo vazio surgiu na empena cega (a lateral sem janela dos prédios) do edifício Martinelli.

Quando os novos prédios altos começaram a ser erguidos no início do século 20, era comum que tivessem algum tipo de tratamento decorativo, como a pintura ou aplicação de molduras, naquelas paredes vazias que podiam ser vistas de diversos pontos da cidade. Uma espécie de “gentileza urbana” das antigas.

Painel emoldura que "apareceu" após a reforma do edifício Martinelli, visto a partir de prédio na mesma rua

Painel e moldura que “apareceram” após a reforma do edifício Martinelli, visto a partir de prédio na mesma rua (Foto: Vanessa Correa)

Painel do edifício Martinelli antes do restauro

Painel do edifício Martinelli antes do restauro (Imagem: reprodução Google Street View)

 

No caso do Martinelli, essa empena e sua moldura serviram por muitos anos como suporte para um anúncio publicitário. A prática também já era comum na época, quando a cidade de São Paulo, antes um entreposto comercial com construções em taipa de pilão, buscava sua afirmação como metrópole moderna.

O Martinelli veiculou por muitos anos anúncios não só naquela empena. Exibiu outras faixas publicitárias, além de letreiros de neon dependurados nas mansardas, dando uma cara de Moulin Rouge compridão ao edifício.

Edifício Martinelli com Zeppelin ao fundo

Edifício Martinelli com Zeppelin ao fundo

Imagem antiga do edifício Martinelli, mostrando  anúncios em suas empenas cegas

Imagem antiga do edifício Martinelli, mostrando anúncios em suas empenas cegas

Mas o miolo da moldura não é exatamente vazio. Ao observar atentamente, veem-se os vestígios da grande garrafa de Fernet Branca (bebida então importada pelo próprio conde Martinelli) que foi pintada há muitas décadas ali. No entanto, pelo contraste com o cor-de-rosa do restauro, criou-se um vazio que parece gritar.

Apesar de a moldura ser revelada com o restauro, o uso antigo da empena como suporte para anúncios publicitários não foi recuperado. Seria possível ou mesmo desejável resolver essa contradição?

Com o painel como está, o aparente vazio emoldurado marca uma antiga presença, remetendo ao que um dia existiu ali, mesmo que um olhar distraído não perceba o “fantasma” da Fernet. Comigo funcionou: fiquei curiosa e encontrei fotos que mostram os anúncios antigos, e de alguma maneira a memória foi preservada.

Se a empresa do aperitivo Fernet Branca recuperasse o anúncio desbotado, resgataria também a prática de usar as empenas como “outdoors”, num restauro integral.

Por outro lado, caso a prefeitura abrisse uma exceção na Lei Cidade Limpa para liberar ali anúncios vintage (talco Granado, sabonete Phebo, pomada Minâncora, Leite Moça, Maizena etc.), de novo estaria permitindo o resgate dessa prática, mas produziria um pastiche. No entanto, o dinheiro arrecadado com a cobrança pelo espaço publicitário poderia ajudar na conservação do edifício.

E ainda, de forma mais liberal, a prefeitura poderia autorizar qualquer tipo de anúncio, recuperando a prática, financiando a manutenção, mas de forma atualizada.

A preservação do patrimônio histórico é assim, complexa. Reconstituições integrais nem sempre são a melhor solução para manter a memória das cidades.

Não há um manual definitivo do que deve ou não deve ser feito. Para discutir essas questões, há mais de uma dezena de cartas de princípios produzidas em congressos dedicados ao tema desde 1931, quando foi elaborada a Carta de Atenas.  E  os contextos sociais e históricos de cada situação de preservação e restauro também precisam ser levados em conta.

De minha parte, gosto da contradição criada com a moldura que parece esperar um preenchimento. E você, o que acha?

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Sem medo do "bikelash", a reação negativa às ciclovias

Por Vanessa Correa
13/04/15 10:08

Há duas semanas São Paulo assistiu a uma batalha entre o Ministério Público de São Paulo e o cicloativismo paulistano.

Em reação a uma liminar da promotoria que paralisava a implantação de 400 km de ciclovias na cidade, ciclistas urbanos se mobilizaram e lotaram, com suas bicicletas, um dos sentidos da avenida Paulista em 27 de março. Os organizadores estimam que 7.000 compareceram ao evento.

Enquanto os ativistas pedalavam, veio a notícia: o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Renato Nalini, havia derrubado a liminar.

Desde que as obras dos 400 km de ciclovias começaram na cidade, as críticas não pararam. Uma professora de semiótica sugeriu que a cor das novas vias era a “mais descarada propaganda vermelha do PT”, e um então candidato a deputado estadual que teve a mesma percepção recorreu à Justiça Eleitoral. Um morador da rua Honduras, onde foi implantada uma ciclovia, reagiu dizendo que “ciclista não presta”. Comerciantes se mobilizaram contra a ciclovia na praça Villaboim, em Higienópolis e, na Vila Mariana, tentaram remover uma ciclovia que passa em frente a uma escola.

IGUAL EM NOVA YORK

A rejeição ao avanço da bicicleta sobre o espaço dos carros não é exclusividade paulistana. Quatro anos atrás, o sentimento antibicicletas em Nova York ganhou a capa da “New York Magazine”.  A matéria intitulada “Bikelash” (algo como “efeito rebote da bicicleta”) veio depois de a associação chamada “Vizinhos por melhores ciclovias” entrar com um processo na Justiça pedindo a remoção da ciclovia ao lado do Prospect Park, no Brooklin.

Capa da New York Magazine sobre o "bikelash"

Capa da New York Magazine sobre o “bikelash”

Protesto contra ciclovia no Brooklin

Protesto contra ciclovia no Brooklin

Um cartaz espalhado nas vizinhanças urgia os moradores a se reunirem contra a obra: “Chateado com a ciclovias? Com medo de parar ou mesmo de abrir a porta do carro? Não consegue estacionar? O perigo e o congestionamento causado por essas ciclovias precisa ser parado!”

E o “bikelash” não foi só no Brooklin, mas nos cinco distritos da cidade. Como aqui, comerciantes diziam que as ciclovias diminuíam o movimento. Processos na Justiça pediram o fim do sistema de compartilhamento de bicicletas. Moradores diziam que Nova York não era uma Amsterdã.

Apesar de todas as críticas, as ciclovias novaiorquinas resistiram e hoje a cidade tem mais de 400 km delas.

Embora sejam cidades muito distintas, as razões que as pessoas declaram quando se opõem à implantação de ciclovias em São Paulo são basicamente as mesmas que foram usadas em Nova York. Segundo  Doug Gordon, um cicloativista novaiorquino que produziu o bem humorado guia que ensina a lidar com o “bikelash”, as mais comuns são:

  1. Ninguém usa bicicletas, então não precisamos de ciclovias
  2. Ciclistas não se comportam. Eles passam no farol vermelho, vão pela contramão, não seguem a lei, então eles não merecem ciclovias
  3. Bicicletas não servem para o nosso bairro, não há espaço
  4. E, claro, “aqui não é Amsterdã”

Para Gordon, as pessoas nem sempre declaram os reais motivos pelos quais se opõem às ciclovias. “Soa muito egoísta admitir que você não quer uma ciclovia porque isso vai tornar mais difícil estacionar”.

O “BIKELASH” PODE AJUDAR

O americano acredita que o “bikelash” pode ser bom para os ciclistas. “Argumentos absurdos contra as bicicletas podem mobilizar os que apoiam as ciclovias a reagir.”

Em seu “manual”, ele mostra como argumentos inconsistentes ou mentirosos podem ser usados pelo cicloativismo como uma arma, mais ou menos da maneira como foi feito por aqui na legendagem cômica do filme “A queda: as últimas horas de Hitler”, rebatizado de “Hitler contra ciclovias”.

O “bikelash” também revela que há muito apoio da população à segurança nas ruas”, diz Gordon. Esse apoio existe em São Paulo também. Dois em cada três paulistanos (66%) são a favor das ciclovias na cidade, mostra pesquisa Datafolha feita em fevereiro.

Para o cicloativista, a reação negativa às ciclovias tem outro efeito positivo: amplia a cobertura do assunto nos jornais, levando a questão do uso da bicicleta na cidade, normalmente algo discutido apenas entre cicloativistas, a ser amplamente debatida.

Daniel Guth, do Ciclocidade (associação de ciclistas urbanos de São Paulo), acredita que é bom que as manifestações contrárias existam para que o cicloativismo “nunca se desvie do interesse público”. “Isso nos deixa mais unidos. O caso do MP-SP contra as ciclovias é o melhor e mais recente exemplo disso [se referindo à bicicletada que veio depois]. Nos faz argumentar melhor, estudar mais e pensar em ações mais efetivas para termos mais pessoas em mais bicicletas.”

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Projeto mostra "cicatrizes" da bolha imobiliária em solo espanhol

Por Vanessa Correa
07/04/15 10:53

O estouro de bolhas imobiliárias, como aconteceu nos Estados Unidos em 2008, pode levar bancos à falência e solapar toda uma economia.

Mas as bolhas também podem deixar marcas físicas. Em Santos, no litoral paulista, a crise da Petrobras deixou prédios recém erguidos vazios na região do porto. Nada que se compare ao que ocorreu na Espanha e que foi documentado visualmente pelo site “Nación Rotonda”.

Usando  imagens do momento do boom imobiliário, no começo dos anos 2000, e de depois de a bolha estourar, já no final daquela década, o “Nación Rotonda” mostra os novos condomínios habitacionais vazios pelo país inteiro, complexos industriais abandonados, áreas desmatadas onde nada chegou a ser construído ou em que as obras pararam pela metade.

Da esquerda para a direita, duas fotos Paracuellos del Jarama (Madrid) em 2002 e 2012

Da esquerda para a direita, antes (2002) e depois (2003) da mesma área de Paracuellos del Jarama (Madrid)

Da esquerda para a dirieta, antes (2003) e depois (2013) da mesma área em Villajoyosa (Alicante)

Da esquerda para a dirieta, antes (2003) e depois (2013) da mesma área em Villajoyosa (Alicante)

O nome do projeto é uma alusão às inúmeras rotatórias que foram construídas para os novos conjuntos residenciais em áreas antes de campos, fora dos centros urbanos, bem ao modelo americano dos “suburbs”, hoje contestado no mundo todo por gerar maior dependência do carro.

fonte: "Nación Rotonda"

fonte: “Nación Rotonda”

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Vídeo mostra tamanho da bicicletada a favor das ciclovias

Por Vanessa Correa
30/03/15 19:22

Cicloativistas estimam em 7.000 o número de pessoas que foram às ruas na última sexta (28) protestar contra a liminar que suspendia a construção de ciclovias na cidade. A PM, que monitorou o evento, diz que não tem esse número.

Não há estimativas de fontes independentes, mas é possível ter uma boa ideia do tamanho da manifestação assistindo ao vídeo que mostra um fluxo constante de ciclistas por mais de 20 minutos na avenida Paulista com a rua Campinas.

O vídeo é de Thiago Benicchio, consultor do ITDP (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento) e ex-presidente do Ciclocidade (associação de ciclistas urbanos de São Paulo).

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Gentrificação ou "youthificação"?

Por Vanessa Correa
30/03/15 10:29

Há diferença entre gentrificação (ou elitização) de uma área considerada “degradada” e o simples “rejuvenescimento” de sua população?

Para Markus Moss, pesquisador de planejamento urbano da Universidade de Waterloo, no Canadá, a “youthification” é diferente porque nela a mudança de classe social não é tão explícita.

No gráfico abaixo, Moss explica um pouco o processo de “youthification” (clique na figura para vê-la em tamanho maior):

A chegada de jovens adultos (de 25 a 34 anos de idade) pioneiros em uma região com aluguéis baixos atrai um comércio voltado para essa população, o que em um segundo momento passa a atrair jovens com maior poder de compra.

O terceiro estágio, a gentrificação acabada (não aparece no gráfico acima), seria a chegada de jovens famílias de classe média alta, com filhos pequenos. Mas, em alguns locais, essa espécie de sucessão ecológica urbana não se completa.

Em cidades canadenses como Montreal, Vancouver e Toronto, Moss percebeu que há distritos com um fluxo contínuo de jovens em substituição aos habitantes que ficam mais velhos, se casam e mudam para bairros menos densos, mais distantes dos centros.

O estudo de Moss levanta uma questão em São Paulo. O centro, especialmente a República, está sofrendo gentrificação ou “youthificação”? .

O censo do IBGE mostra que a população da região central está cada vez mais jovem, mais rica e mais solteira. Haverá uma nova etapa, em que famílias de classe média alta se mudarão para lá? Ou o centro será daqui para a frente o lugar dos adultos jovens, onde são criadas as novas tendências?

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Bicicletadas ao redor do Brasil e na Alemanha em apoio às ciclovias de SP

Por Vanessa Correa
23/03/15 13:47

A Massa Crítica de Munique, na Alemanha, fará um pedal na próxima sexta (27) em apoio às ciclovias paulistanas, que tiveram sua implantação suspensa pela Justiça a pedido da promotora Camila Mansur.

página da Massa Crítica de Munique no Facebook

As massas críticas, do inglês “critical mass” (no Brasil mais conhecidas como bicicletadas), são eventos em prol do transporte não motorizado que ocorrem nas últimas sextas-feiras de cada mês ao redor do mundo todo.

Outra cidade alemã, Colônia, também dedicará o pedal de sexta à causa.

No Brasil, as massas de Florianópolis, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Blumenau, Natal, Campo Grande e Recife já declararam seu apoio e também vão pedalar na sexta em prol das ciclovias paulistanas.

A Massa Crítica de São Paulo sai às 20h da praça do Ciclista, na esquina da avenida Paulista com a avenida Consolação.

No site do evento que ocorrerá dia 27 em Munique, os organizadores explicam o apoio à massa crítica paulistana (traduzido com ajuda do Google Translate!):

“Acaba de chegar a nós uma mensagem da Massa Crítica de São Paulo com um pedido para solidariedade internacional. A construção de ciclovias nessa metrópole foi suspensa pela Justiça ‘sob argumento de que os estudos de implantação não possuem dados sobre o impacto de sua construção’. Nós ciclistas, por outro lado, sabemos exatamento o que está acontecendo. Eles querem proteger o uso de carros, que movimentam enormes somas de dinheiro em nossas cidades. A enorme massa de ciclistas concorda com a urgência desse plano [cicloviário] para encorajar pessoas a pararem de usar seus carros todos os dias e começarem a usar bicicletas. Na próxima sexta, 27 de março, estamos indo para as ruas para lutar em um enorme movimento para nos posicionarmos sobre nossa segurança e para pedir que o projeto seja retomado e não paralizado, como pequena parte do governo quer. Por isso, procuramos a ajuda de todas as massas críticas ao redor do globo para ir às ruas em solidariedade a São Paulo. Até o momento já encontramos grande solidariedade dentro dos limites de nosso país, mas todos sabemos que esse apoio internacional pode ser um grande impulso para nosso pedido […]”.

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Elites mais segregadas em São Paulo

Por Vanessa Correa
03/03/15 09:58

Que São Paulo é uma metrópole segregada não é novidade. Centro, zona oeste e começo da zona sul são os espaços das elites. A zona norte e o início da zona leste são redutos de classes médias. E as periferias do sul e do leste concentram a população mais pobre.

Isso não mudou. Mas uma nova pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole, da USP, mostra que entre 2000 e 2010 os espaços predominantemente da elite se expandiram e passaram a ter menos moradores de outras classes. Ou seja, ficaram ainda mais exclusivos. Enquanto isso, as periferias tenderam a se tornar mais misturadas.

O estudo usou como base os dados dos Censos 2000 e 2010. Em vez da renda dos moradores, adotou o tipo de ocupação dos trabalhadores recenseados. E a segregação espacial desses grupos na metrópole foi medida pelo índice de dissimilaridade, comumente usado nesse tipo de análise.

Colocando de um modo bastante simples, o índice (que vai de zero a um) indica a proporção de pessoas de determinado grupo que teria que ser movimentada espacialmente na cidade para que sua distribuição ficasse igual à do restante da população.

O índice pode ser usado tanto para comparar a segregação dos grupos no conjunto da cidade como para comparar a segregação entre um grupo e outro. As tabelas seguintes apresentam o índice entre classes para os anos de 2000 e 2010. Nota-se que, quanto maior a distância social entre uma classe e outra, maior o índice de dissimilaridade entre elas, mostrando que a segregação na cidade aumenta com a diferença social (clique nas imagens abaixo para vê-las em tamanho maior).

Por exemplo, em 2000, a segregação entre “Proprietários” e “Profissionais de nível alto” era de 0,15, mas alcançava 0,53 entre “Proprietários e empregadores” e “Trabalhadores manuais qualificados”. Além disso, a segregação se aprofundou entre 2000 e 2010 entre os grupos das extremidades sociais, mas diminui entre os grupos mais próximos.

Em 2000, o índice de dissimilaridade entre o grupo de “Proprietários e empregados” e o grupo “Trabalhadores manuais não qualificados” era de 0,50. Em 2010, havia pulado para 0,57, mostrando aprofundamento da segregação.

O pesquisador Eduardo Marques, autor do novo estudo, também dividiu a cidade em cinco tipos de áreas, de acordo com a predominância de ocupação profissional de seus moradores.

Como pode se observar nas tabelas abaixo, em 2000, nos “Espaços das elites” a soma de “Proprietários e empregadores” e “Profissionais de nível alto” totalizava 39,6% dos chefes de família dessas áreas. Em 2010, os dois grupos já perfaziam 47,2% do total. Ou seja, os “Espaços das elites” ficaram mais exclusivos.

A presença de “Trabalhadores manuais não qualificados” nos “Espaços das elites” foi reduzida no período. Em 2000, eles eram 10,6% dos chefes de família desses espaços. Mas em 2010 essa proporção havia caído para 7,5%.

Ao mesmo tempo, os “espaços inferiores” se tornaram menos operários. Ou seja, se tornaram mais heterogêneos, mostrando tendência diferente da dos espaços de elite de classes médias altas.

Uma das conclusões da pesquisa é que “o caso de São Paulo mostra que um aumento na exclusividade dos espaços de elite pode conviver com maior heterogeneidade dos espaços médios e baixos”, resultado inesperado frente à polarização social que se esperava das metrópoles latinoamericanas.

“As áreas de elite se tornaram mais exclusivas, as periféricas mais misturadas, e isso tem a ver com processos de mobilidade social que aconteceram a partir dos anos 2000, assim como a mobilidade espacial das classes médias para espaços periféricos”, disse Eduardo Marques ao Seres Urbanos.

O estudo é bastante amplo e complexo, e sua íntegra pode ser vista aqui. Mas um achado mais fácil de entender foi a expansão das áreas reservadas às elites.

Nos mapas abaixo, é possível notar que a mancha escura da região do Morumbi (d) aparece maior no mapa de 2010 do que no de 2000, indicando a expansão das áreas predominantemente de elite naquela parte da zona sudoeste da cidade. O mesmo aconteceu na zona oeste, com a Vila Leopoldina (e) se transformando em área de elite. Essas áreas exclusivas também apareceram na região de Barueri (g), onde existem condomínios fechados, e cresceram no ABC Paulista (b).

 

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O vidro como "expressão verdadeira" do sistema construtivo atual

Por Vanessa Correa
30/01/15 15:24

Os edifícios revestidos em vidro são símbolo de grandes corporações desde 1958, quando o prédio da Seagram, projeto do arquiteto Mies Van der Rohe, foi erguido no número 375 da Park Avenue, em Manhattan.

Na São Paulo dos anos 1970, os prédios de vidro invadiram a Paulista quando a avenida se transformou em novo centro empresarial da cidade. Mas os escritórios esquentavam como estufas, o que fez o vidro perder o apelo, até que a tecnologia deu novo fôlego a esse revestimento.

Agora, películas internas que filtram a insolação levaram ao surgimento de um mar de edifícios de pele de vidro na Marginal Pinheiros, e outros tantos espalhados pelas avenidas Faria Lima e Berrini. As empresas usam o revestimento para expressar atualidade, arrojo, poder.

Mas em uma cidade de clima tropical, sem os rigores do inverno do hemisfério norte, um prédio todo vedado em vidro, a base de ar-condicionado, se justifica? Não há espaço para os brises do modernismo à brasileira?

O arquiteto Roberto Aflalo, do escritório Aflalo e Gasperini, que projeta uma parte considerável desses edifícios em São Paulo, reflete sobre a pele de vidro na entrevista a seguir. Para Aflalo, o vidro talvez seja “a expressão mais verdadeira” do novo sistema construtivo dos edifícios corporativos, baseado em pilares e vigas “esbeltos”.

Roberto Aflalo (esq.) e seu sócio, Gian Carlo Gasperini

Roberto Aflalo (esq.) e seu sócio, Gian Carlo Gasperini (foto Eduardo Anizelli)

A pele de vidro faz sentido considerando nosso clima e nossa tradição arquitetônica?

Hoje pretende-se um ganho de luminosidade natural dentro dos edifícios de escritórios, para reduzir o consumo elétrico. Também existe uma grande aspiração, de quem está dentro do escritório, de ter vistas, de ter amplitude da paisagem. Hoje em dia existem vidros de alta performance, que deixam passar luz mas não calor, que é o grande vilão. Um prédio de escritórios é um grande conjunto de lajes esbeltas apoiadas por pilares também esbeltos. No sistema construtivo moderno dos edifícios comerciais, o fechamento destas estruturas se faz com um painel estruturado em alumínio, como um mosaico de elementos que vão se justapondo, fechando as fachadas. Não existe aquela coisa de fazer alvenaria, jogar massa, aplicar uma pedra colada. O painel de fechamento é uma membrana composta de pedra, granito, alumínio, cerâmica ou vidro. A pedra tem dois a três centímetros de espessura, o alumínio tem meio, o vidro pouco mais de um.

E por que não usar o brise, que foi uma solução do modernismo brasileiro para controlar a insolação?

É uma grande dor de cabeça para prédios de grande porte, altos. Eles são expostos na fachada, dificultam a limpeza e servem como apoio para pássaros. Tem casos de urubus que pousam nos brises e arrancam as gaxetas de borracha das janelas. Os brises também acumulam poeira, poluição. Quando chove, essa poeira escorre e pinta a fachada de sujeira. Uma fachada lisa tende a se manter sempre limpa.

Mas quanto à insolação, os brises são eficientes?

Depende da orientação das fachadas. Fachadas com face para leste e oeste, onde o sol incide quando está mais baixo, com raios mais paralelos à superfície da terra são problemáticas. Para um brise proteger contra esta incidência horizontal, ele praticamente tem que fechar toda a abertura. Isso resolve o problema do sol, mas aí acabou a luz, acabou a vista. Nestes casos a única coisa que resolve, de fato, é uma cortina automatizada de sombreamento, do tipo rolo. Já na orientação norte, onde temos um raio solar com menos inclinação, mais vertical, podemos aplicar brises horizontais, que resolvem boa parte do ganho de calor. No entanto, ao fazer uma simulação de consumo energético do edifício, a diferença é muito pequena entre soluções com brise e sem ele, só com vidro.

Então você acredita que esses prédios são adequados ao clima paulistano?

A tecnologia tem mudado muito esta percepção do certo ou errado. Obviamente estamos falando de prédios grandes. Em escalas menores, onde o acesso e manutenção das fachadas é mais simples, temos mais liberdade de lidar com outros elementos, até com os brises. Mas nas grandes alturas, é muito difícil de justificar. Não que nós não acreditemos nisso. Inicialmente partimos dessa pesquisa em todos os nossos projetos. Fazemos uma enorme quantidade de testes, mas os brises nunca se justificam.

Infinity Tower, projeto do escritório Aflalo e Gasperini na avenida Faria Lima

Infinity Tower, projeto do escritório Aflalo e Gasperini na avenida Faria Lima (foto Gal Oppido)

E quanto à racionalidade construtiva. Pode-se dizer que finalmente chegamos, no Brasil, à racionalização que o modernismo tinha como objetivo?

Sim. Na prática o modernismo foi uma expressão muito mais adequada ao sistema construtivo de hoje. É muito curioso fazer um prédio que é construtivamente apoiado em pequenas hastes metálicas, leve, esbelto e depois revesti-lo com uma fachada que aparenta pesar toneladas, como pesavam de fato os edifícios antigos. Fazer um prédio de linguagem clássica em cima de uma tecnologia atual é muito mentiroso. Talvez o vidro seja a expressão mais verdadeira desse sistema construtivo.

E a questão estética dessas fachadas?

Nós não temos uma linha única de trabalho. Eu particularmente busco hoje combinações de vidros coloridos e outros materiais. Estamos evitando o vidro reflexivo pleno pois temos tido surpresas entre as escolhas de amostras e o resultado final. Fatores estéticos como coloração, refletividade, transparência, custos e performance são as variáveis que condicionam as escolhas deste material.

Nossa linha de trabalho evolui em busca sempre de novas soluções. Houve uma época em que o escritório trabalhou com as grelhas estruturais. Tínhamos uma pesquisa enorme com estas grelhas em diversos projetos. O Citycorp na Paulista, por exemplo.

Pode se dizer que a fase das grelhas estruturais foi ultrapassada?

Ela não é ultrapassada. Ela continua sendo uma opção. Era um momento de pesquisa nossa, passamos para outras áreas de interesse. E eventualmente podemos voltar a fazer um prédio de grelha hoje. O edifício recente mais próximo disso é a torre Eldorado, junto ao mesmo shopping. Não deixa de ser uma espécie de grelha, mas é inteiramente revestido com vidro.

Quando seus clientes encomendam os prédios, eles pedem especificamente que sejam revestidos de vidro? A pele de vidro virou uma espécie de símbolo de grandes empresas?

Sim, como primeira opção. Mas temos argumentos para criar alternativas. Eventualmente algum cliente gostaria de ter menos vidro. Aí a gente acaba substituindo uma placa de vidro por uma placa de granito. É uma questão gráfica quase. Já a questão dos brises é mais difícil.

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