Prefeitura quer "coworking" público em fábricas antigas
03/01/15 10:42Como proteger as fábricas antigas, o mais significativo legado histórico do surgimento da São Paulo metrópole, diante da pressão do mercado para tornar as zonas industriais um grande mar de novos condomínios de apartamentos?
Para preservar edifícios industriais do começo do século passado, a prefeitura estuda mecanismos que facilitem a doação ou aquisição desses imóveis. Segundo o secretário de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco, uma das ideias é criar nesses lugares equipamentos públicos como espaços de trabalho compartilhados para jovens empresários.
Em entrevista exclusiva à Folha, Mello Franco falou sobre a preservação do patrimônio fabril e também sobre a importância de se manter no zoneamento as áreas dedicadas às indústrias.
Folha – É necessário manter zonas industriais em uma cidade que tem nos serviços sua base econômica?
Fernando de Mello Franco – A cidade precisa de espaços para algumas funções específicas. Fazendo uma correlação, um apartamento sem área de serviço não funciona muito bem. Ocorre o mesmo com São Paulo. Se há um setor que está crescendo muito em seu peso relativo na economia da cidade é o setor logístico. Há um mercado gigantesco aqui dentro da cidade, e grande parte do que circula no Estado como um todo tem como origem o abastecimento da própria cidade. Precisamos de área para isso, e para serviços relacionados, por exemplo, a tratamento de resíduos, triagem, ecopontos e tal. Coisas que geram incômodos.
E o setor industrial em si ainda é importante na cidade?
Há uma série de indústrias que ainda estão dentro da cidade e que ficarão dentro da cidade por muito tempo, como as indústrias gráfica e de alimentação. Ou mesmo a indústria de cosméticos, que está totalmente relacionada ao consumo da própria metrópole. Identificamos uma série de setores produtivos que têm desejo de ficar, porque têm uma relação muito grande com os centros de pesquisa e inovação ou com o centro consumidor, por exemplo. Há outras áreas aí para a expansão do mercado imobiliário, mas não para a expansão desses setores incômodos. Se edifícios de apartamentos são construídos em áreas industriais, no dia seguinte quem comprou vai reclamar da incomodidade e gerar uma pressão para que a indústria saia de lá.
É senso comum que essas áreas são vistas pelo mercado imobiliário como áreas para expansão de empreendimentos, por causa dos grandes terrenos. O setor não pressiona por uma desregulação das zonas industriais?
Sim, são terrenos planos, grandes, estão perto de grandes vias e assim por diante. Mas esse debate não aconteceu nas oficinas do zoneamento [a Lei de Zoneamento está em fase de revisão e o novo texto será enviado pela prefeitura à Câmara Municipal no início de 2015]. A gente está entendendo que não há uma discordância dessa nossa posição.
Como será essa questão na operação urbana Mooca-Vila Carioca?
Nessa operação a gente preserva dois territórios, duas zonas específicas: uma mais voltada às questões logísticas na Vila Carioca, e outra voltada a atividade industrial na Mooca, onde há uma presença significativa de empresas de metalurgia. Ao mesmo tempo, tem todo um projeto que visa compatibilizar essas zonas também com áreas lindeiras para onde se pretende o desenvolvimento imobiliário, sobretudo para habitação.
Está se formando um consenso de que o patrimônio industrial é muito representativo, senão o mais representativo, da história paulistana. Quais serão os mecanismos para a preservação desses imóveis?
Concordamos que o patrimônio industrial é importante. A gente nunca teve um colonial importante aqui, e o que tinha foi destruído. Nunca teve um barroco significativo como em Minas ou Salvador. Especificamente para a operação Mooca-Vila Carioca, a gente está superpreocupado. Tem uma área que fica no entorno da antiga fábrica da Antártica e dos moinhos também. Só que a gente não tem recursos para desapropriar. A gente está pensando em mecanismos, como a transferências do potencial construtivo dessas áreas para outros terrenos, que incentivem a doação de certos equipamentos para a prefeitura. Assim o poder público pode escolher o destino delas. Não quero te adiantar porque a fórmula não está fechada. A gente está estudando o caso de Nova York. Lá, a autoridade portuária é pública, e é dona de toda a borda de Nova York, então fica mais fácil uma política de destinação.
E o que a prefeitura de São Paulo poderia fazer com essas áreas?
Por exemplo, a gente pode criar polos de inovação, com “startups”. Essas empresas não têm como bancar aluguéis, que são caros para quem está começando. Vários lugares do mundo já estão praticamente disponibilizando esses espaços como uma política de incentivo para muitos setores produtivos. Mas o município precisa ser dono do imóvel.
————————–
Curta a página do “Seres Urbanos” no Facebook aqui.