FAU-USP põe na internet seu acervo dos 34 anos da revista 'Acrópole'
04/07/14 09:32Para o deleite de aficcionados e estudiosos da história das casas e edifícios brasileiros, a Faculdade de Arquitetura da USP digitalizou toda sua coleção da revista ‘Acrópole’ e colocou à disposição na internet. Não é preciso cadastro ou e-mail. Basta acessar o site e mergulhar em suas 27.542 páginas.
Publicada de 1938 a 1971, a revista dedicada aos projetos arquitetônicos registrou o rápido crescimento da cidade de São Paulo e é fonte riquíssima de pesquisa.
Nesses 34 anos, divulgou o trabalho de arquitetos como Siegbert Zanetini, Ruy Ohtake, Osvaldo Bratke e Rino Levi. Como a redação da revista ficava na cidade de São Paulo, a maior parte dos projetos publicados são do Estado, com ênfase na capital.
De acordo com o crítico de arquitetura e editor da revista Monolito, Fernando Serapião, que estudou a Acrópole em sua dissertação de mestrado, o primeiro proprietário da revista, Roberto Corrêa Brito, dirigia o Cadastro Imobiliário de São Paulo e desejava publicar a obra do arquiteto Eduardo Kneese de Mello.
Surgiu daí a ideia de criar a publicação, com o que colaboraram, além do próprio Kneese de Mello, os engenheiros Alfredo Ernesto Becker e Henrique Mindlin.
Isso talvez ajude a explicar o grande número de obras desses autores na revista, especialmente em sua primeira fase, que durou até 1952, sob a edição de Corrêa Brito. Os conteúdos editoriais e de publicidade não eram claramente separados, e as matérias exibiam logotipos e telefones das construtoras e arquitetos, observou Serapião em seu trabalho.
Nesse período eram frequentes em suas páginas as casas em “estilos” (neocolonial especialmente) projetadas por arquitetos como Kneese de Mello e Bratke, que depois se consagrariam no modernismo.
Essa predominância ajuda a explicar um pouco aquele momento, pouco antes da explosão do estilo internacional, quando se buscava uma arquitetura nova que refletisse os valores e tradições nacionais. Busca que se traduziu, no Brasil, na reedição de elementos da arquitetura colonial.
Em 1952, Quando Max Grunwald se tornou editor, o perfil da revista mudou e, de acordo com Serapião, passaram a ser escolhidos projetos de maior qualidade para a publicação. O que se registrou a partir daí foi principalmente o modernismo arquitetônico que tomava corpo na cidade de São Paulo.
Em uma rápida “folheada” nos exemplares, separei alguns projetos emblemáticos.
Nos primeiros volumes, eles aparecem ao lado de anúncios como os da casa de vitrais Conrado Sorgenicht (aberta até hoje), da construtora Monções de Artacho Jurado, e de um lançamento imobiliário onde se lê “construa seu lar no Pacaembú, a nova maravilha urbana”.
O Clube Regatas do Tietê, de Vilanova Artiga, foi publicado no nº27, em 1940. Três edições depois (1940, nº30), aparece o projeto do então recém-construído Hospital das Clínicas.
Em 1941 (nº 34) a Acrópole trouxe os desenhos e fotos da construção da Via Anchieta e da canalização do rio Tietê, mostrando que o urbanismo era um tema tão importante em suas páginas quanto a arquitetura.
Já na segunda fase, a revista publicou (1960, nº 255) projetos como o edifício Quinta Avenida, de Pedro Paulo de Melo Saraiva, construído na avenida Paulista. Em 1970, veio o especial sobre Brasília (nº375). A última edição (nº390), de 1971, é toda dedicada a projetos de sinalização como o do Metrô de São Paulo.
A resolução das páginas digitalizadas não está lá grandes coisas, mas com o zoom, é possível ler todos os textos. Além disso, faltam algumas edições e páginas, como as folhas que trazem o projeto do prédio da própria FAU-USP, de Vilanova Artigas (1970, nº377). A ausência foi notada pelo perfil “Vilanova Artigas Professor” no Facebook.
Nada que tire o brilho da iniciativa da faculdade de tornar acessível a qualquer um, a partir do sofá de casa, as páginas dessa revista pioneira.
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