Faculdade põe "alucobond" bordô em prédio brutalista da Brasil Arquitetura
20/05/14 10:46Quando o prédio da FEI Liberdade, um edifício brutalista da Brasil Arquitetura, apareceu com a fachada pintada de branco, tive um sobressalto. Isso foi no ano passado. Mas quando passei por lá esses dias a caminho do supermercado e vi que instalavam um acabamento em alumínio laqueado bordô no vão frontal do edifício, o mundo ficou em câmera lenta. Como assim, “alucobond*” bordô num prédio de concreto aparente?
Por que alguém desvirtuaria completamente um edifício que bebe na tradição da Escola Paulista de Arquitetura, de mestres como Vilanova Artigas, Lina Bo Bardi e Paulo Mendes da Rocha? Por que “embelezar” um prédio racional, que foi feito para não ter frescuras, para ser a expressão verdadeira de sua estrutura e materiais?
As mudanças “fazem parte de adequações necessárias de manutenção e para contemplar exigências de acessibilidade e segurança, e a reforma obedeceu a todos os parâmetros e cuidados técnicos”, explicou a FEI. Tudo bem, mas e a arquitetura?
Francisco Fanucci, um dos autores do projeto junto com Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, lamenta a “triste intervenção” feita na fachada. “Os clientes nunca nos chamaram para nada, nem pra dar alguma opinião. Nem saberia o que comentar, só lamentar… ‘Alucobond’ bordô é demais, né?”
Infelizmente, a intervenção no prédio da FEI não é rara. Muitas escolas, bancos e edifícios públicos brutalistas receberam pinturas, fechamentos e grades que nada têm a ver com a arquitetura originalmente projetada.
O brutalismo é uma manifestação do modernismo arquitetônico importante na cidade, mas pouco compreendido. Sua plasticidade, rústica, pesada, é percebida como opressora pela população. Em algumas matérias que já fiz tratando desse tipo de edifícios, essa percepção é visível nos comentários. Adjetivos como “triste” e “monstrengo” classificam as obras. Daí o “embelezamento” das fachadas.
“É como fazer uma maquiagem sobre algo que tem sua beleza própria. E o ‘alucobond’ hoje é um material popular. Vinte anos atrás era o paraline, uma espécie régua de alumínio. Todo mundo usava porque parecia chic. Era o falso elegante. São estruturas efêmeras, de pouca durabilidade e manutenção difícil. Como uma maquiagem mesmo”. O comentário é do crítico de arquitetura e professor da USP Hugo Segawa.
*Alucobond é uma marca de painel composto de alumínio, mas esse nome é amplamente usado por arquitetos e pessoas do meio para definir as placas metálicas que vêm sendo usadas na cidade principalmente para fachadas comerciais. Por isso grafei em minúsculo e entre aspas o termo neste texto.
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