Na calçada pedalam 71% dos ciclistas do Bike Sampa
19/04/14 10:49Quando não existem vias exclusivas, o ciclista não pensa duas vezes no meio do trânsito selvagem: pula para a calçada.
Uma pesquisa do sistema de empréstimos de bicletas Bike Sampa (as laranjinhas do Itaú) com 400 usuários mostrou que 66% deles combinam calçada e rua em seus trajetos. E 5% só vai pela calçada! Ou seja, 71% usam o passeio para se deslocar. A prática é proibida, mas disseminada.
Imagino que proporção semelhante ocorra com os ciclistas “comuns”, mas não há uma pesquisa com esse grupo menos específico.
Eu mesma, quando (raramente) vou de bicicleta de casa, na Liberdade, para a Folha, uso o “mix”. E mais: começo na motofaixa da Vergueiro! Depois vou pelos calçadões do centro, com bastante atenção para não esbarrar nos pedestres. Uma vez na avenida São João, prefiro suas calçadas largas e razoavelmente vazias ao asfalto. Chego ao trabalho praticamente sem usar a rua e completamente fora da lei. Não defendo nem incentivo, apenas confesso a prática.
Por outro lado, posso argumentar que a prefeitura (gestões anteriores e atual) não cumpre a mesma lei, ou seja, o Código de Trânsito Brasileiro. Pelo texto, a administração deve zelar pela segurança de todos os componentes do trânsito, sejam pedestres, ciclistas ou motoristas. E a prioridade quando se refere à segurança deve ocorrer nesta ordem: do mais frágil ao mais protegido. Com os parcos 66,3 km de ciclovias que temos, a lei nem de longe está sendo cumprida.
Não por acaso, as principais dificuldades citada pelos ciclistas do Bike Sampa foram a falta de ciclovias e ciclofaixas (60%) e motoristas que não respeitam quem está no trânsito de bicicleta (28%).
Compartilhar as calçadas que têm espaço suficiente pode ser uma maneira de criar rapidamente muitas novas ciclofaixas. Avenida São João, Duque de Caxias, Brasil, Berrini, para mencionar algumas, são bem largas e não tão movimentadas. Aliás, isso já ocorre em São Paulo, mas de forma limitada. Há 4,5 km de calçadões no centro onde é permitido pedalar.
Por que não fazer? Em Berlim, pedestres e ciclistas dividem algumas calçadas numa boa. Caminhantes estrangeiros é que se assustam com o trim-trim das bicicletas pedindo passagem. Eu tomei vários em Berlim até me acostumar. Onde não há faixa exclusiva para as magrelas, elas trafegam, dentro da lei, pelas bordas dos passeios.
Cinco vezes por semana
A mesma pesquisa, que foi executada pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), revelou também que aumentou a proporção dos que usam a laranjinha cinco dias por semana. Em 2012, essa frequência de uso correspondia a 19%. Em 2013 saltou para 27%.
Também de acordo com o Cebrap, os principais motivos que levam as pessoas a adotar o sistema de compartilhamento de bicicletas é evitar ficar no trânsito (38%) e beneficiar a saúde (29%). O terceiro motivo é economizar (18%).
Hoje o Bike Sampa tem 250 mil usuários cadastrados, que usam as 1.400 bicicletas espalhadas por 137 estações, ainda bastante concentradas nas zona oeste e sul. Após depredação e roubos, estações do centro de São Paulo foram removidas.
Veja abaixo outros números da pesquisa.
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