Prédios de oito andares podem deixar a cidade mais densa do que espigões
20/03/14 07:00A prefeitura pretende barrar prédios de mais de 25 metros de altura (cerca de oito andares) no meio de bairros que já começaram a ser verticalizados, como antecipou a Folha na segunda.
Moradores de lugares como Perdizes e Pompeia podem ter comemorado, mas prédios de até oito andares não são garantia de que uma região não sofrerá adensamento de pessoas e construções. E isso é bom, especialmente para a mobilidade urbana.
A figura abaixo ajuda a esclarecer (clique no desenho para vê-lo em tamanho maior).
Na imagem, é possível ver três maneiras bem diferentes de atingir a mesma densidade (75 unidades por 10 mil m²).
Em São Paulo, devido à legislação urbana em vigor, os edifícios ocupam apenas entre 50% e 70% da área dos terrenos, produzindo a desagradável paisagem do tipo “paliteiro”, que corresponde à primeira ilustração.
Por aqui, predominam as torres altas cercadas por uma área verde e de lazer. O oposto do que observamos em cidades como Nova York ou Paris (mais parecidas com a terceira imagem), onde os prédios são colados uns aos outros, mas não necessariamente altos, e o verde fica por conta das praças e parques. Ou seja, onde o verde é público.
A equação é simples. Menos altura, mais área do terreno ocupada. A paisagem ganha, a cidade fica mais agradável. Se houver comércio no térreo, fica também mais segura (mais olhos nas ruas), eficiente (o carro não sai da garagem pra comprar até pãozinho) e sociável (as pessoas se encontram mais fora de casa).
O novo Plano Diretor, que está em discussão na Câmara Municipal, vai dizer como e onde a cidade deve crescer. Tem como um de seus principais objetivos evitar o chamado espraiamento das novas habitações para a periferia, gerando muitas viagens das pessoas até o trabalho. A ideia é concentrar a população perto dos corredores de transportes públicos para diminuir os congestionamentos.
Desenho urbano
Mas a lei que vai detalhar o modo como cada lote da cidade será ocupado é a do Zoneamento, a ser discutida depois do plano.
Já está em andamento um concurso da prefeitura para que arquitetos proponham modos novos de configurar as quadras da cidade. Esses modelos servirão de base para o debate.
Em vez de regras abstratas como coeficientes de ocupação, a ideia é usar o desenho arquitetônico (como o da ilustração deste post), uma maneira mais contemporânea de pensar a cidade. É mais fácil de compreender e de ser discutida com a população, e permite gerir não só as taxas de ocupação e densidades, mas também a paisagem.
Tarde demais para São Paulo? Depende do lugar. Moema, por exemplo, já é um paliteiro, mas o desenvolvimento da cidade se dirige agora para onde ainda há casinhas de monte (Vila Madalena, Vila Mariana etc.) e para antigos bairros industriais como Lapa e Mooca (onde há grandes lotes subutilizados).
A revisão do Zoneamento e do Plano Diretor vai dar a cara das novas fronteiras paulistanas. Uma oportunidade a não se perder.
Os bairros e as construtoras
Os bairros são parte da cidade e da equação para resolver problemas que afetam a todos. Para isso é preciso deixar de lado o “não no meu jardim”.
Por sua vez, o setor imobiliário precisa reconhecer que o poder de mobilização das associações e movimentos de moradores é real e que as pessoas andam revoltadas, não sem razão, com os prédios, que veem como os grandes vilões da cidade. Formas mais inteligentes de ocupação podem diminuir a resistência desses setores (muito bem articulados, por sinal), instalados nas melhores regiões da cidade, justamente onde as construtoras querem incorporar seus novos negócios.
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