Neto de Warchavchik restaura prédio do avô em SP
28/02/14 15:10Quando projetou aquela que é considerada a primeira casa modernista brasileira, em 1927, Gregori Warchavchik (1896-1972) o fez com linhas tão retas para a época que teve de inserir alguns adornos no desenho (mesmo sem a menor intenção de executá-los) para conseguir a aprovação da prefeitura.
Mas alguns anos depois, Warchavchik deixou um pouco de lado a fase de manifesto, e as linhas de seus prédios ficaram mais suaves. Dessa fase saiu, em 1939, o edifício da alameda Barão de Limeira, nos Campos Elíseos (centro).
Feinho e pichado, com venezianas enegrecidas pelo tempo até outro dia, acaba de ser restaurado pelas mãos de Carlos Eduardo Warchavchik, neto do pioneiro modernista.
A revalorização do centro, diz Carlos, criou o momento para recuperar o prédio, ao mesmo tempo que a ausência de vagas de garagem passou de problema incontornável para questão menor. Tanto que todas suas 12 unidades já foram vendidas. “E até revendidas com lucro”, diz.
As quitinetes (ou estúdios, se houver pudor) de 60 m² saíram por R$ 300 mil. Já o apartamento de dois dormitórios e 100 m², por R$ 450 mil. Na semana passada, uma dessas unidades maiores estava sendo ofertada para aluguel por R$ 3.500 mais despesas de condomínio (R$ 870).
Até 2010, quando a reforma começou, o edifício da família do arquiteto estava emprestado para pessoas que tomavam conta dele. Até que foi detectado um problema com as fundações, que eram de madeira. Com o gradativo rebaixamento do lençol d’água da cidade, essas estruturas ficaram expostas e começaram a se deteriorar. A primeira etapa da reforma foi reconstruí-las.
Como o edifício é tombado, toda a obra, que só terminou no final do ano passado, teve que passar pela aprovação do patrimônio histórico municipal. A ideia era apenas restaurar o edifício ao original, então não houve muita dificuldade em conseguir o aval.
A maior mudança foi na fachada de trás, em que Carlos preferiu instalar cobogós (elementos vazados) de concreto aparente para fechar as aberturas da área de serviço. “Antes se viam aquelas roupas penduradas”, diz.
Carlos também fez questão de refazer a luminária da entrada do edifício, desenha por seu avô (veja na galeria de fotos).
Embora o edifício da Barão não seja tão conhecido como a primeira casa modernista (que fica na rua Santa Cruz, na Vila Mariana, na zona sul), ele fez parte em 1943 da Exposição Brazil Builds, do MoMA, em Nova York, e aparece no respectivo catálogo. Com isso, o trabalho de Gregori Warchavchik ganhou novo destaque no exterior. No mesmo ano, o prédio foi publicado em duas ocasiões pela revista americana Architectural Record e premiado pela prefeitura paulistana como um dos mais belos edifícios produzidos entre 1939 e 1940.
Uma curiosidade sobre o edifício é que seus apartamentos não tinham acessos de serviços e dependências de empregados, algo incomum na época. Isso permitiu melhor aproveitamento do pequeno lote em que foi construído.
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